Inaugurado em novembro de 2019, época em que não se falava em coronavírus por aqui (e em praticamente nenhum lugar do planeta), o Teatro D, localizado no estacionamento do hipermercado Extra, no Itaim, terá de fechar as portas. Não por causa de medidas epidemiológicas determinadas por governador ou prefeito, como ocorreu entre março e outubro de 2020, mas porque o prédio em que ele está instalado será demolido para a construção de um empreendimento imobiliário comercial.
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No último dia 31 de março, a Justiça determinou a retomada da área, de 1 150 metros quadrados, por parte do Grupo Pão de Açúcar (GPA), dando linhas finais a uma história que começou como um sonho pessoal. “Sempre quis ter meu próprio teatro. Comecei a desenhar o projeto em 2016 e na inauguração, três anos depois, eu trouxe o Ney Matogrosso, de quem sou amigo, para um espetáculo memorável”, afirma o ator, diretor e produtor Darson Ribeiro, dono do espaço.
Também passaram pelos tablados de 113 metros quadrados do Teatro D peças de artistas como Heloisa Périssé, Eri Johnson e Cássia Kis. Na quarta-feira (27), Ribeiro recebeu a reportagem da Vejinha no foyer, espécie de antessala gigante do espaço principal — o do palco e das poltronas —, que abriga uma biblioteca, um café, área de exposições e pequenas apresentações artísticas e musicais, além de um coworking.
Prestes a precisar encaixotar toda a mudança, mas sem saber qual poderá ser o destino do mobiliário (“Onde vou colocar as 350 poltronas que foram projetadas para caber no espaço em que estão?”), o empresário era um misto de tristeza, conformação e um pouco de mágoa. “Fiz o contrato em 2019, mas o prédio estava vendido desde 2017. Encomendei projeto arquitetônico e tirei todas as licenças municipais. Eu montei um teatro, não uma banca de coxinhas. Eles deveriam ter falado para eu não investir tudo o que eu investi”, diz.
Segundo suas contas, até agora foi gasto mais de 1 milhão de reais desde o início da empreitada. “Mas me ofereceram apenas 100 000 reais a título de indenização”. Procurado, o Pão de Açúcar diz que sempre tentou um acordo amigável. “O contrato de locação, desde o início, não garantiu ao locatário um prazo determinado. A companhia, prezando pelo respeito à parceria, sempre buscou uma composição amigável para o tema, e tem realizado diversas tratativas, reuniões e propostas a fim de chegar a uma resolução sobre o encerramento da parceria, o que já incluiu, até mesmo, a concessão de descontos e a negociação de dívidas do cliente.”
A venda e a demolição do prédio do Extra, que no passado abrigou o falido e extinto Mappin, vão abrir espaço para a construção de um empreendimento comercial de três blocos e apenas cinco andares cada. Para “fugir” dos valores cobrados pela prefeitura para a construção de torres maiores e aproveitando que o terreno possui 16 900 metros quadrados (quatro vezes o tamanho da Praça Benedito Calixto, por exemplo), o condomínio vai ligar as quatro ruas da edificação.
No térreo dos prédios, haverá espaço para atividades comerciais, como lojas e restaurantes. Nesse novo espaço, também caberia um bonito e aconchegante teatro.
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Publicado em VEJA São Paulo de 11 de maio de 2022, edição nº 2788