Em Nova York, o circuito off-Broadway é representado por salas menores que as do famoso teatro americano (raras ultrapassam os 400 assentos), espetáculos de baixo orçamento e ingressos mais em conta. A qualidade dessas montagens é reconhecida pela crítica e atrai a atenção dos turistas acostumados a gastar seus dólares nas bilheterias das superproduções. Fenômeno semelhante começa a ocorrer agora em São Paulo, onde já existe um roteiro capaz de oferecer musicais de pequeno porte em espaços que acomodam de 65 a 300 pessoas por sessão.
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Vem do Rio de Janeiro o novo representante do segmento. Adaptado do livro do jornalista Ruy Castro, o musical Bilac Vê Estrelas pretende lotar as 290 cadeiras do Espaço Promon, no Itaim, apoiado no talento de onze atores e três instrumentistas, além de uma equipe técnica de dezoito pessoas. Sambas compostos por Nei Lopes costuram a trama, ambientada na capital fluminense do começo do século passado com personagens reais como o poeta Olavo Bilac (papel de André Dias) e o jornalista José do Patrocínio (o ator Sergio Menezes). O orçamento, de 800 000 reais, nem é tão baixo, mas, comparado ao montante de 12 milhões gasto em Chacrinha, o Musical, por exemplo, soa bem modesto.
“Os artistas e produtores estão metendo as caras, levantando os espetáculos possíveis. Tomara que os compositores também se sintam estimulados a criar canções para novidades desse tipo”, afirma o diretor da montagem, João Fonseca, que é também responsável por Cássia Eller, o Musical. Lançada no ano passado para a plateia de 132 espectadores do Centro Cultural Banco do Brasil, a peça reestreia nesta semana no Teatro das Artes, no Shopping Eldorado, local com capacidade para 769 pessoas. “É muito bom o público viver a experiência da proximidade. E, se mais tarde o interesse crescer além das expectativas, buscaremos salas maiores”, diz Fonseca.
O melhor exemplar do gênero em cartaz, Urinal, o Musical, dirigido por Zé Henrique de Paula, tem lotação esgotada até o meio de junho, e, no entanto, não mdeixará o Teatro do Núcleo Experimental, na Barra Funda, antes de dezembro. O espaço intimista, com 65 cadeiras, é um dos trunfos do êxito. “Nenhum ator usa microfone, e oito aparelhos estão espalhados pelo palco para capturar e valorizar a voz de cada um”, explica Zé Henrique.
Escrita por Greg Kotis e Mark Hollmann, a peça mostra a rotina de uma cidade em meio a uma crise hídrica. Catorze atores, cinco músicos e uma regente participam da encenação, que custou 300 000 reais e traz cenários e figurinos reciclados de outras produções. “Para quem paga mais de 100 reais em um teatro de 1 000 lugares, desembolsar a metade para ver um espetáculo em um local onde as coisas acontecem a 2 metros da plateia é impactante”, observa a regente Fernanda Maia.
Próximo ao Núcleo Experimental, o Espaço Cia. da Revista, em Santa Cecília, apresenta uma versão de Ópera do Malandro. Pouco habituados ao circuito alternativo, fãs do autor, o compositor Chico Buarque, chegam à bilheteria e ficam surpresos com as acomodações do teatro, que reproduz um cabaré. “A ideia é deixar de lado a parafernália para valorizar o texto e a interpretação das canções”, conta o diretor, Kleber Montanheiro. O encenador levou dois anos na preparação do musical, que reúne 21 artistas e consumiu um investimento de 140 000 reais.
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Temas populares, desta vez na voz de Caetano Veloso, Vanusa e Ivan Lins, compõem a trilha de Lisbela e o Prisioneiro, dirigido por Dan Rosseto e Ligia Paula Machado. A peça transforma o Teatro Nair Bello em um picadeiro, com oito atores, três acrobatas e sete músicos. Responsável por outro espetáculo do tipo em cartaz, O Pornosamba e a Bossa Nova Metafísica, o diretor Marcelo Marcus Fonseca também percebe o fascínio de desavisados ao deparar com canções de Noel Rosa, Vinicius de Moraes ou Tom Jobim na voz dos atores.
“A música é fundamental para estabelecer a relação do público com uma peça, e isso explica o sucesso do gênero”, acredita. Ele montou O Pornosamba na sede do grupo, o Teatro do Incêndio, na Consolação. “As pessoas demoram uns quinze minutos para perceber que estão diante de um musical mais participativo, mas logo entram no clima, como se estivessem em uma roda de samba”, completa Fonseca. O profissional ergueu a peça com 40 000 reais, cobra 10 reais de entrada, e o fim da encenação acontece na calçada, com o espectador em meio aos transeuntes, dançando junto do elenco.
VALE A PENA VER
Espaço Promon (290 lugares). Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, 1830, Itaim Bibi. Sexta e sábado, 21h; domingo, 18h. R$ 60,00.
› Lisbela e o Prisioneiro, o Musical
Teatro Nair Bello (200 lugares). Shopping Frei Caneca, 3º piso, tel. 3472-2414. Sexta, 21h30; sábado, 21h; domingo, 19h. R$ 80,00.
Espaço Cia. da Revista (99 lugares). Alameda Nothmann, 1135, Santa Cecília, tel. 3791-5200. Segunda e sexta a domingo, 20h. R$ 80,00.
› O Pornosamba e a Bossa Nova Metafísica
Teatro do Incêndio (120 lugares). Rua da Consolação, 1219, Consolação, tel. 2609-3730. Neste sábado (30), 21h; neste domingo (31), 20h. R$ 10,00.
Teatro do Núcleo Experimental (65 lugares). Rua Barra Funda, 637, tel. 3259-0898, Segunda, sexta e sábado, 21h; domingo, 19h. R$ 40,00.