Brigadeiro de colher, cupcake, bombom de caipirinha… Essas sobremesas hoje nem parecem, assim, novidades. Mas, quando foram lançadas por Carole Crema na confeitaria dos Jardins que leva apenas seu nome desde 2017 (por quinze anos, a casa se chamou La Vie en Douce e La Vie por Carole Crema), eram guloseimas da moda.
Para celebrar as duas décadas da inauguração, ela, que é uma das juradas do programa Que Seja Doce (GNT), relançou algumas dessas pedidas (veja a lista completa no quadro abaixo), que estarão na vitrine, pelo menos, até novembro. “A depender da recepção, podem entrar para a linha fixa”, diz a profissional conhecida pela inquietude — vive incluindo novos itens no portfólio, na mesma velocidade que pode defenestrá-los.
Para as reedições, Carole não adaptou as receitas, mas trocou o tipo de chocolate usado. “Hoje as pessoas entendem mais (de doce), reconhecem a qualidade e pagam mais também”, acredita. Ainda assim, em se tratando de paladar, diz que pouco mudou. “O brasileiro gosta de doce doce, de doce tradicional”, afirma. “Pelo menos para meu público, tudo o que é mais rebuscado, chique, mais leve, mais suave não tem a mesma saída.”
Não à toa, ela segue fiel a confeitos ricos em dulçor (a primeira resenha publicada por VEJA SÃO PAULO tinha como título “Açúcar, muito açúcar”). “Fui muito criticada, até negativamente, sempre falavam que eu fazia doces muito doces”, diz sobre a mídia especializada. “Mas é o que acredito, o que gosto e os clientes também. Por muito tempo, sofri. É chato você não estar nos rankings. Meu pai, que assina um jornal, me perguntou por que não saí numa lista da publicação. Ou por que não saí na Vejinha. Não saí, mas vendi um monte”, responde.
E não é que vende mesmo? Em um dia de trabalho, calcula produzir 1 tonelada de sobremesas em sua fábrica, no Butantã. São destinadas à loja como também às redes clientes, caso da Lanchonete da Cidade, da Havanna, da Blenz Café e da 1900. A vocação de fornecer para outros estabelecimentos começou em 2014 e cresceu progressivamente. Atualmente, representa 65% dos negócios. Os outros 35% correspondem ao ponto físico, ao e-commerce e ao delivery por aplicativo.
Por mês, só o ponto de venda, na Rua da Consolação, 3161, onde Carole aparece todas as quartas (“é lá que consigo ter um feedback das pessoas”), comercializa 6 000 unidades de bolo de coco, aquele embrulhado em papel-alumínio, que entrou no cardápio em 2008. “Vende mais que café!”.
Além dessa pedida, ela se orgulha de ter lançado o brigadeiro de colher, que acaba de voltar à moda. Foi quase sem querer. Como nem sempre acertava no ponto da guloseima, decidiu servi-la em copinhos de plástico no início da trajetória do endereço.
Formada em cozinha em Londres e Milão, Carole acabou, feito formiguinha, seguindo o rastro do açúcar. “Estou virando confeiteira aos pouquinhos, chego lá um dia, estou no processo”, se diverte ela, que também dá aulas na Escola Wilma Kövesi de Cozinha. Resolveu empreender porque notou que faltavam docerias na cidade. “Abri uma confeitaria por motivos muito mais do mercado”, diz.
Em duas décadas, o estabelecimento teve diferentes sócios e, há um ano e meio, ela o toca sozinha. No piso de cima, abriu uma cozinha-estúdio, que aluga para gravações e onde também produz conteúdo para a internet. “Hoje tenho um emprego a mais, que são as redes sociais”, conta ela, que viu a demanda de “publis” crescer na pandemia. “Foi o que me manteve.”.
Ainda para este ano, pretende entrar na onda dos bentôs cakes, os bolinhos guardados em marmitas e confeitados com memes e bonequinhos. “Eu acho horroroso”, confessa. Mas resolveu aceitar a sugestão de um amigo e vender a pedida, mas a seu modo: usará sobre o glacê frases de um artista, que têm aparecido em edifícios, bolsas e até jangadas.
Até o fim de 2022, promete ainda aumentar sua presença em outras cidades brasileiras. “Vou trabalhar em desenvolver parceiros que operem minha marca para o delivery”, prevê. As ideias, enfim, não param de pulular. “Já quebrei, já vendi, já me associei, já fiquei muito perto de fechar a loja e falar ‘vou embora’. Mas não consigo. Não me vejo sem ter de resolver meus probleminhas de todo dia”, revela. O “b.o.zinho” mais recente é tentar evitar a tentação de dar um pulo na doceria aos sábados — três meses atrás, voltou a viver apenas com as filhas em um apartamento vizinho ao estabelecimento. “Como a loja é pequena, se eu aparecer, vira um tumulto”, justifica
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Publicado em VEJA São Paulo de 20 de julho de 2022, edição nº 2798