Sem dar muitos detalhes sobre a iniciativa, a Brasil Kirin, uma das principais empresas cervejeiras com atuação no Brasil, anunciou hoje o lançamento de uma cerveja que leva na receita lúpulo plantado no Brasil – mais especificamente na Serra da Mantiqueira, no Estado de São Paulo. Parte da linha Baden Baden, de Campos do Jordão (microcervejaria comprada em 2007 pela Schincariol, que mais tarde foi adquirida pela empresa japonesa), a 15 anos é uma Helles Bock, ou Bock clara. Trata-se de um estilo de origem alemã, com notas destacadas de malte e amargor presente, mas não exagerado. Ela foi feita para celebrar o aniversário da cervejaria, criada em 1999.
O lúpulo é um dos principais ingredientes da cerveja, junto com o malte, a água e a levedura – cabe a ele dar amargor à bebida, além de notas herbais, florais, cítricas, terrosas ou condimentadas, por exemplo. Um dos principais desafios dos cervejeiros brasileiros é encontrar lúpulo fresco para suas receitas, em especial as que dependem mais do ingrediente, como India Pale Ales. Até agora, havia apenas registros de experimentos com plantio local de lúpulo, feitos pela Ambev, e iniciativas isoladas de microcervejeiros e produtores caseiros. O maior obstáculo ao plantio nacional é justamente o clima: o lúpulo depende de condições muito específicas de estações, temperaturas, luz solar, umidade e solo não apenas para se desenvolver, mas também para apresentar características de amargor, sabor e aroma que o tornem viáveis para uso na cerveja.
Em entrevista ao blog, Marcus Dapper, mestre-cervejeiro responsável pela marca Baden Baden, afirmou que os lúpulos foram obtidos da plantação de Rodrigo Veraldi, na Serra da Mantiqueira. “Ele plantou várias mudas de lúpulo importadas. Não sabemos qual a variedade exata que acabou sendo utilizada. Vamos usar a estrutura da Kirin no Japão para análise e verificação de um possível uso em larga escala. Há muito ainda a se desenvolver para um plantio comercial.”
Ele afirmou que o plantio ocorreu em setembro e a colheita foi feita em maio. As flores frescas de lúpulo foram usadas diretamente na fervura. Dapper não deu muitos detalhes técnicos sobre o lúpulo, dizendo apenas que os exemplares dessa colheita apresentaram notas cítricas e terrosas. “Mas há um sem-número de variáveis no plantio do lúpulo que vão definir suas características, é difícil sabem com certeza ainda.” Em termos técnicos, segundo ele, o lúpulo utilizado possui de 1,5% a 2% de alfa-ácidos – substâncias responsáveis pelo amargor na cerveja -, índice considerado baixo se comparado a variedades plantadas na Europa e Estados Unidos.
Um detalhe importante dado pelo cervejeiro é que o lúpulo plantado e colhido no Brasil não foi o único a ser utilizado na receita. A empresa, porém, não informou qual porcentagem ele representa no total utilizado, alegando sigilo sobre os detalhes de seus produtos. Da mesma forma, não disse quais foram os lúpulos importados plantados no terreno, nem se os exemplares utilizados têm mais potencial para amargor ou aroma, nem se haverá outras cervejas produzidas pelo grupo que testarão esse lúpulo.
Leonardo Gayer, gerente de marketing de cervejas especiais da Brasil Kirin, afirma que o objetivo da experiência com o lúpulo não era apenas sua utilização em uma cerveja sazonal. “O objetivo é criar uma tradição e identidade nacionais, e inovar no mercado de cervejas especiais no Brasil.”
Em 2011, a microcervejaria Seasons, de Porto Alegre, já havia utilizado lúpulos plantados na região de Vacaria para produzir uma cerveja. A Seasons Harvest Ale foi criada em 29 de março daquele ano, e servida apenas em barris em eventos do setor na capital gaúcha. O responsável pelo plantio tentou enviar flores de lúpulo a outros cervejeiros fora do Rio Grande do Sul, mas elas não resistiram ao transporte.
A Baden Baden 15 anos deve chegar aos supermercados até o final do mês e custar R$ 14,95 a garrafa de 600ml.