O sociólogo e economista Luiz Galina, 79, assumiu neste mês uma função de notoriedade para a cultura em São Paulo, a de diretor regional do Sesc no estado paulista. Ele dá continuidade ao trabalho de Danilo Miranda, que faleceu em 29 de outubro, aos 80 anos de idade.
Natural de Serra Negra, Galina chega ao cargo em um momento de expansão da rede, que acontece de forma simultânea à programação cultural diária. Segundo dados de controle do Sesc, as 42 unidades no estado receberam 660 000 pessoas apenas nos sete dias da semana passada.
+ “Nossa transformação contempla o olhar das minorias”, diz diretora do Museu do Ipiranga
Para o novo diretor, é uma “grande responsabilidade” manter esse nível de reconhecimento. Mas isso não o assusta, pelo contrário. Em entrevista à Vejinha, ele fala com calma, profundidade e satisfação sobre o trabalho.
A seu favor, o sociólogo possui um repertório de 55 anos na instituição, tendo atuado como orientador social, gerente de finanças, superintendente administrativo e consultor técnico. Antes de assumir, com a morte de Miranda, Galina já acompanhava de perto a rotina do diretor regional, de quem era amigo de longa data.
Qual é a sensação ao assumir o cargo?
Eu e o Danilo entramos juntos no Sesc, há 55 anos, como orientadores sociais. A gente viajava pelo interior e organizava atividades. Temos essa convivência comum. Quando o nosso presidente (Abram Szajman) assumiu, ele nomeou o Danilo como diretor regional. Eu passei por vários cargos, mas as minhas funções sempre me aproximavam dele. A gente conversava quase que diariamente. Acompanhar seus últimos meses, com problemas sérios de saúde, foi muito difícil. A nossa perspectiva era que ele voltasse. O Danilo me ligou e falou: “Olha, vou tirar uma licença de dez dias, gostaria que você ficasse na diretoria regional”. Mas ele infelizmente veio a falecer. Então, é um sentimento de tristeza e luto da minha parte e de vários colegas. Por outro lado, o presidente me nomeou como efetivo e aqui estou. Já estava por dentro dos projetos. Agora vamos dar continuidade a esse legado.
Quais são os primeiros compromissos neste momento?
Nós estamos focados no plano estratégico de expansão. É uma prioridade importante, à qual tenho dedicado mais tempo. E também há a demanda da nossa programação, que não pode parar. Nossa equipe gerencial e jurídica foi mantida, nosso conselho também. E eu conheço cada uma das pessoas que está à frente das superintendências.
+ Denise Fraga: “Quem mora na rua também é nosso vizinho”
O que está previsto no cronograma do plano de expansão?
A obra que está mais adiantada é em Franca, prevista para ser concluída no segundo semestre de 2024. É uma unidade muito bem projetada e voltada para questões de sustentabilidade. Na capital, vamos abrir a do Parque Dom Pedro II no segundo semestre de 2025. Vai atender uma região onde há muitas carências e colaborar para que ela seja recuperada. Também vamos ampliar as novas unidades na Casa Verde e na Bela Vista. A da Casa Verde será a maior da rede em ambiente urbano, passando a do Belenzinho e chegando a 45 000 metros quadrados.
Qual será o impacto da nova sede no antigo prédio do Mappin?
Mesmo sendo um prédio administrativo, vai colaborar para a revitalização do Centro. Nós vamos reformá-lo e levar para lá uma população de 500, 600 funcionários. Isso vai mostrar que uma empresa pode ter uma sede no Centro, sim, não precisa ir para a Faria Lima ou para a Paulista.
“Não há necessidade (de mudança). Queremos manter a qualidade. A minha ideia é continuar dando condições para que as equipes se desenvolvam”
Luiz Galina
Qual é a sua visão sobre a expansão na periferia?
Damos atenção ao Centro, claro, porque são milhões de pessoas que frequentam a região, mas estamos atentos à periferia. Temos projetos em Pirituba, na Zona Norte, São Miguel Paulista e Sapopemba, na Leste, e Campo Limpo, na Sul. Na Grande São Paulo também, em São Bernardo do Campo e Mogi das Cruzes, além do interior.
Tem alguma mudança a ser feita?
Não, não há necessidade. Queremos manter a qualidade. Nossas equipes têm liberdade para propor inovações. É o caso do nosso trabalho com idosos. Foi uma ideia que veio de um funcionário, que percebeu uma necessidade de atendimento, e hoje isso faz parte da programação. A minha ideia é continuar dando condições, como bolsas de estudo, para que as equipes se desenvolvam.
Como funciona a transparência nas burocracias do Sesc?
O Sesc não é uma entidade pública, mas trabalha tendo em vista o interesse público. Nós temos regulamentos a seguir. Todas as contratações de serviços têm de ser precedidas de licitações, de acordo com o nosso regulamento. Isso tudo é fiscalizado por um conselho e pelo Tribunal de Contas da União. Eles têm todos os nossos sistemas. É uma fiscalização muito rígida.
+ “Um museu como a Pina precisa saber ser espelho”, diz curadora-chefe
Sobre o que o senhor e o Danilo conversavam recentemente?
Nós somos apaixonados pelo Sesc. Promover acesso a bens culturais pode mudar vidas. De três anos para cá, a grande preocupação do Danilo era a diversidade. Primeiro, que a nossa programação fosse diversa, para a população se sentir representada. Mas que isso também se refletisse na gestão de pessoas, para que todos os empregados tenham as mesmas oportunidades.
Qual é o legado que fica do Danilo?
A obsessão pela qualidade é uma das grandes marcas. Tudo o que fazemos tem de ser bem-feito. Outra coisa é o atendimento a pessoas de baixa renda e a preocupação com a acessibilidade. Grande parte das nossas atividades são gratuitas. Se a pessoa não tiver nenhum dinheiro, ela pode vir ao Sesc, que vai ter alguma coisa para ela. E, quando a gente cobra, são preços acessíveis. E o Danilo também se preocupava em ter conteúdo educativo em todas as atividades, para transmitir conhecimento a todos.
O que essa experiência na chefia proporciona de bagagem?
No Sesc, a gente aprende coisas novas todos os dias. É uma oportunidade que temos por meio dessa convivência com os nossos pares, do superintendente ao eletricista. O principal ativo do Sesc, na minha maneira de ver, é o conjunto desses 8 000 funcionários, atuando para dar um bom atendimento à população. Eu estou aqui há 55 anos e nunca falei: “Poxa, vai ser chato trabalhar hoje”. Eu trabalho muito feliz.
Publicado em VEJA São Paulo de 17 de novembro de 2023, edição nº 2868