Assim que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) deu aval para a vacinação de crianças de 5 a 11 anos com o imunizante da Pfizer, nesta quinta-feira (16), o governo do estado de São Paulo abriu duas frentes para obter os imunizantes.
De um lado, cobrou o governo federal para disponibilizar doses específicas para crianças para começar a imunização o quanto antes; de outro, mostrou interesse de fazer a compra direta dos imunizantes.
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Ao passo que as doses para imunização dessa nova faixa etária não estão disponíveis, a vacinação de crianças e adolescentes de 12 a 17 anos patina no estado de São Paulo e apenas 63% dessa faixa etária tomou as duas injeções. Essa cobertura é considerada baixa por especialistas.
“É um quantitativo muito grande [sem a segunda dose]. Diria que é uma baixa cobertura de segunda dose, já que precisamos atingir 95%. Já se sabe também que uma dose só dá baixa proteção”, afirma Monica Levi, presidente da comissão de revisão de calendários de vacinação da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).
Com a experiência de quem participa de campanhas de vacinação no país desde a epidemia da meningite, o médico José Cássio de Moraes, professor titular da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, afirma que essa faixa etária tem uma peculiaridade que pode potencializar a circulação do vírus caso não esteja totalmente imunizada.
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“A vacinação, como todos sabem, reduz as formas mais graves da doença e a transmissão dela. Sem a segunda dose, e ainda num cenário onde temos uma nova cepa como a Ômicron, ajuda muito a manter a circulação do vírus”, afirma Moraes.
Com isso, a grande preocupação volta a ser os públicos mais vulneráveis, já que justamente as crianças e a adolescentes não estão entre aqueles mais contaminados e entre os que mais morrem pela Covid-19, mas podem transmitir a doença para pais e avós.
Dados da Fundação Seade indicam que 6,9% de todos os 4,4 milhões de casos de Covid no estado de São Paulo registrado desde o início da pandemia atingem pessoas de até 19 anos. Em relação à letalidade, eles representam 0,2% do total.
“O adolescente tem um papel importante porque ele é a pessoa que tem maior contato social com amigos e está sujeito a ir mais em festas, reuniões, muitas vezes com grande agrupamento de pessoas. Nesse caso ele exerce o papel de introdução do vírus na casa. Na adolescência a gravidade da doença é menor, porém, ele pode transmitir para uma pessoa idosa e aí, sim, termos mais casos graves de Covid”, afirma Moraes.
Desinformação
Segundo a médica Mônica Levi, em geral, vacinas que demandam mais de uma dose tendem a ter a cobertura da dose complementar menor. É o que acontece, por exemplo, com vacinais da meningite, HPV e Hepatite B, esta última, com três doses.
“Todas as vacinas que são de mais de uma dose vai caindo [a cobertura] conforme o número de doses”, explica.
Segundo Moraes, outro fator preocupante é que os adolescentes em geral têm uma falsa impressão de que estão imunes a muitas doenças. Isso ajudaria a explicar o desinteresse. “Eles têm a concepção de ‘não doença’ e não comparecem ao posto de vacinação”, afirma.
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Mônica diz que um grande problema relacionado à vacina da Covid é o de informações desencontradas, que podem gerar dúvida nas pessoas. Ela cita como exemplo a própria liberação da vacina da Pfizer para crianças de 5 a 11 anos nesta quinta-feira (16), questionada nesta sexta-feira (17) pelo próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
“Os pais antivacinas têm se organizado e estão ganhando espaço. E existem aqueles que não se vacinam mesmo por negligência. O fato é que muitas pessoas estão confusas e ouvindo informações negativas sobre as vacinas”, afirma a médica.
Ambos cobram ações mais efetivas por parte das autoridades públicas, com reforço nas campanhas de mídia e vacinação em escolas.
Sem nenhuma dose?
Iniciada no dia 18 de agosto deste ano, a previsão era a de vacinar 3,2 milhões de pessoas de 12 a 17 anos. Até agora, apenas 2,1 milhões estão completamente imunizadas. Das 1,1 milhão que ainda não tomaram a segunda dose, 887,4 mil daqueles de 12 a 19 anos estão com a segunda dose em atraso.
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Uma das conclusões possíveis a partir dos dados do próprio governo estadual é a de que ao menos 213 mil crianças e adolescentes ainda não tomaram sequer uma dose, mesmo tendo o imunizante disponível nos postos de vacinação.
Procurada para comentar o assunto, a Secretaria Estadual de Saúde não respondeu ao pedido de esclarecimentos até a conclusão deste texto.