O caso de Lucas Santos, filho da cantora de forró Walkyria Santos que foi encontrado morto após receber mensagens de ódio, rescendeu a discussão sobre o uso das redes sociais pelos jovens. O ambiente, apesar de propiciar interações e criar novas amizades, também pode ser tóxico com hostilidades e ofensas. E, de acordo com especialistas, a supervisão dos pais tem papel primordial para evitar o desenvolvimento de problemas mais graves em decorrência dessa possível toxicidade.
Segundo a psicóloga Gabriela Luxo, mestre e doutora em distúrbios do desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, as mensagens de ódios escritas na internet podem ser resultado de problemas de quem a redige. “O que acontece é que ela (autora das mensagens de ódio) possui alguma frustração ou problema pessoal e acaba depositando ali na rede social por trás das telas. Aquela angústia, raiva ou ressentimento negativo sai por ali”.
A especialista explica que, nessas situações, o problema não é com o alvo dos xingamentos e sim de eliminar a raiva para depositar no outro. O anonimato da internet favorece esses tipos de comportamentos, que pessoalmente não acontecem da mesma forma devido à um controle inibitório natural.
“Na rede social, justamente por estarmos por trás, nos bastidores, as pessoas simplesmente falam o que querem. O outro que recebe esse discurso de ódio nem sempre sabe reagir bem porque não está preparado para aquilo”, explica. “Então, um passa a agredir o outro. É um ciclo que vai se alimentando”.
POSSÍVEIS SINAIS
As consequências dessas situações podem levar a problemas psicológicos, resultando até em quadros de depressão. Entre os sinais: permanência no quarto o tempo todo sem nenhum motivo aparente e desânimo com atividades básicas em geral ou com a família. Não querer fazer nada com os pais, desde coisas mais simples como sentar na mesa para uma refeição, são pequenos indícios de que algo não está indo bem e é preciso de uma conversa.
A psicóloga vê que os pais tem dificuldades em reconhecer quando a situação não está boa e alerta que, quanto antes o problema for identificado, melhor é para resolvê-lo. “É preciso perguntar como ele está, como ele sente, como vão os amigos, o que eles gostam fazer. Conhecer um pouco desse mundo do jovem e entrar no universo deles. Saber o que que ele faz vinte e quatro horas dentro do quarto e os motivos que ele precisa ficar tanto tempo ali”.
A falta da comunicação com filhos adolescentes é visto como o problema central. “Apesar de muitas vezes quererem falar, os pais precisam ouvir. É óbvio, mas as pessoas tem dificuldade”. E complementa, explicando que a supervisão não deve ser confundida com controle excessivo. “É necessário atenção para não entrar nesse controle exagerado. Isso gera repulsa. O filho naturalmente prefere falar com os amigos, mas os pais e as mães precisam ter uma parceria. Em geral, falta muito”.
O acompanhamento profissional, com psicólogos e psiquiatras, também servem de orientação para tomar as medidas certas. Os problemas podem vir de outras esferas além da internet, como nos estudos ou em novas fases da vida. “Dos 14 anos em diante os jovens já falam muito bem e nós acabamos entendendo que eles estão prontos pro mundo. Mas não estão. Ainda é necessário dar importância a supervisão”, finaliza a psicóloga.
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