Era 25 de dezembro, Natal de 2020, quando Aparecido Rocha, 61, sentiu fortes dores no peito e procurou o Hospital Cruzeiro do Sul, particular, em Osasco. Foram sete dias hospitalizado até o diagnóstico: colecistite aguda, uma inflamação na vesícula biliar causada por um cálculo, uma pequena pedra no órgão. A operação para o problema, no entanto, só ocorreu em 5 de outubro, pelo SUS, quase 10 meses depois das primeiras queixas.
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Segundo Aparecido, durante todo esse tempo, ele sentiu dores e desconfortos abdominais, além de seguir uma dieta restrita para evitar a piora do quadro. “A minha alimentação era só comida sem óleo, sem gordura. Tudo na base de água. Se eu comia um pouco a mais, sentia dor. Se deitava para o lado direito, também sentia dores”, afirma.
Apesar dos cuidados, o quadro se agravou. “Os médicos falaram que minha vesícula já estava parcialmente necrosada e muito mais inflamada. E que eu podia ter uma infecção generalizada se demorasse mais para fazer a operação”, conta Aparecido sobre a demora para a realização da cirurgia. Ele narra que procurou a rede pública após tentar, durante meses, realizar a cirurgia pelo convênio do Grupo NotreDame Intermédica (GNDI), do qual o empresário é cliente. Entenda o caso:
IDAS E VINDAS
Aparecido recebeu alta do Cruzeiro do Sul no dia 31 de dezembro de 2020. Após o fim da hospitalização, tratou um problema relacionado à inflamação da vesícula até que começou a realizar os exames para a operação, que envolvia a retirada da pedra do órgão.
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Meses depois, em maio, realizou uma consulta para a marcação do procedimento, mas foi informado por um médico que o Cruzeiro do Sul se tornou um centro de referência contra a Covid-19. Segundo a NotreDame, houve uma “data prevista para a cirurgia”, que foi cancelada porque “estávamos no pico da segunda onda de Covid. Portanto, todos os procedimentos eletivos que não fossem de urgência foram suspensos, por conta dos riscos envolvidos”.
O empresário, no entanto, diz que nunca teve o procedimento marcado para o Hospital Cruzeiro do Sul. “Não tinha data para realizar nenhuma cirurgia eletiva”, rebate Aparecido.
AGENDAMENTO?
Meses depois, em agosto, o empresário seguiu para outra consulta médica para tentar marcar a cirurgia. Dessa vez, a operação na vesícula foi agendada para 25 de setembro.
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Mas no dia 19 daquele mês, outro problema. “Liguei na NotreDame e falaram que minha cirurgia havia sido cancelada. Disseram que tinham ligado [para confirmar a operação] e eu não tinha atendido o telefone. E é mentira”, diz. O empresário abriu uma reclamação contra a operadora na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Depois de se queixar no órgão regulador dos planos de saúde, o procedimento foi remarcado para outubro.
O SUS
O empresário foi ao Hospital Regional de Osasco, público, em 23 de setembro. “Eu passei mal e procurei esse hospital. Estava sentindo dores, perda de apetite e muito mal estar”, narra. Segundo Aparecido, ele procurou a rede pública por não confiar mais nos serviços da rede NotreDame. Realizou novamente todos os exames pré-operatórios, desta vez pelo SUS, e teve a cirurgia agendada para 5 de outubro, sete dias antes da marcada pelo GNDI, que deveria acontecer em 12 de outubro.
“Consegui finalmente realizar a cirurgia. Ninguém da NotreDame me ligou para falar do procedimento do dia 12. Dia 13 eu liguei lá e falaram a mesma coisa, que tinham me ligado e eu não tinha atendido, o que é mentira. Estou conversando com advogados. Se falarem que é cabível de ação judicial, quero ser ressarcido”.
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Segundo o empresário a vesícula estava parcialmente necrosada por conta dos 10 meses que se passaram do diagnóstico até a realização do procedimento.
“Ele ficou meses tentando resolver o problema e no fim conseguiu operar pelo SUS com o caso mais agravado. A gente entende que a operadora pode responder por danos morais, por ter colocado a saúde e integridade física dele em risco”, diz Rafael Robba, 39, especialista em direito à saúde e sócio do Vilhena Silva Advogados, escritório contratado por Aparecido.
Sobre a remarcação da cirurgia, a NotreDame afirmou em nota apenas que “a cirurgia estava agendada e inclusa no mapa cirúrgico do Bosque da Saúde, com a ciência do beneficiário (ligação gravada). A mesma não aconteceu, porque segundo o paciente, sentiu-se inseguro pois não recebeu a confirmação de internação por parte do hospital”.
Confira o posicionamento completo da operadora de saúde sobre o caso:
Esclarecemos que em 25/12/2020, às 7:23hs, o Sr. Aparecido deu entrada no Hospital Cruzeiro do Sul. Durante a internação foi detectado quadro de colecistite aguda. Foi realizado o tratamento clínico e o paciente recebeu alta, com orientação de procurar atendimento ambulatorial a fim de rever a necessidade de alguma abordagem suplementar.
Realizou consultas com o especialista, quando foi solicitado um procedimento cirúrgico eletivo, com agendamento no Hospital Cruzeiro do Sul.
Na data prevista para a cirurgia, estávamos no pico da 2.a onda de Covid. Portanto, todos os procedimentos eletivos que não fossem de urgência foram suspensos, por conta dos riscos envolvidos.
Retornou ao ambulatório para remarcar o procedimento, sendo o mesmo reagendado para o Hospital Bosque da Saúde.
A cirurgia estava agendada e inclusa no mapa cirúrgico do Bosque da Saúde, com a ciência do beneficiário (ligação gravada). A mesma não aconteceu, porque segundo o paciente, sentiu-se inseguro pois não recebeu a confirmação de internação por parte do hospital.