Expectativa X realidade: a real depois do reality show
Enquanto o formato se mantém sucesso de audiência e gera novos produtos, muitos participantes costumam se frustrar com a expectativa gerada pelos cinco minutos de fama
O gênero dos reality shows continua em franca expansão. Na Grande São Paulo, só perde em audiência para novelas e minisséries, e está à frente de filmes, futebol e programas de variedades, segundo dados do Kantar Ibope Media. A nova safra de produções made in São Paulo inclui do quadro Ideal pra Você (no Fantástico, da Globo), no qual três pessoas tentam emagrecer, ao Power Couple, competição entre casais famosos (Record). Isso fora as atuais temporadas do festival de bandas SuperStar (Globo) e do gastronômico Bake Off Brasil (SBT).
Para o cofre das emissoras, o nicho consolidou-se como pilar fundamental. Na Globo, a última edição do Big Brother Brasil, que superou os 31 pontos de ibope na região metropolitana, faturou cerca de 250 milhões de reais em um trimestre. O montante é quase o que todo o SBT (exceto afiliadas) embolsa, em média, durante o mesmo período. Na Band, o MasterChef (7 pontos de pico na atual versão) virou a maior fonte de renda, com um total de vinte patrocinadores. Cada um deles paga até 5 milhões de reais para mostrar seus produtos. Entusiasmada pelo filão, a emissora do Morumbi transmitirá no segundo semestre outro formato inédito por aqui, o concurso de talentos X-Factor.
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É claro que há anônimos que saíram desse universo para voos maiores. Sabrina Sato, revelada no Big Brother, fatura na casa de 120 000 reais em uma presença vip, e seus rendimentos mensais como apresentadora da Record, somadas as ações de merchandising, são estimados entre 600 000 e 1 milhão de reais. Exemplos como o dela inspiram as pessoas a investir no negócio, mas a verdade é que poucos lucram com a exposição.
Alan Niggas, que foi colega de Sabrina na mesma edição do reality show, em 2003, faz parte dessa lista de azarados. “Por causa do programa, perdi meu emprego, a identidade e a razão”, desabafa na música Podia Ganhar o Big Brother, gravada em fevereiro. Depois de ser eliminado, com 57% dos votos, foi demitido por justa causa pelo antigo patrão do cargo de promotor de vendas, devido ao período de ausência. O carimbo de “ex-BBB”, acredita Niggas, ainda travou suas aspirações artísticas. Ele tenta novamente a carreira de cantor, à qual se dedicou após sair da atração, no embalo da fama repentina. Sem êxito no Brasil, três anos depois acabou se mudando para Miami, onde atuou como dançarino. Hoje, trabalha na ponte aérea na função de “concierge independente”, reservando serviços de luxo para turistas.
Dos vencedores de todas as sete temporadas do Ídolos, exibido no SBT e na Record, apenas a cantora sertaneja Thaeme Mariôto está nas paradas, mas por outros caminhos: após dois anos de ostracismo, foi descoberta pelo sertanejo Sorocaba. Rafael Barreto levou a melhor nesse programa em 2008, com prêmio de 50 000 reais e a gravação de um CD pela Sony Music. “Quando o trabalho saiu, um ano depois, eu tinha torrado metade do dinheiro no McDonald’s”, brinca. “Achei que viraria um Ricky Martin, mas quebrei a cara.” Em dezembro, ele trocou a Mooca pela sua terra natal, Salvador, a fim de cantar com o irmão. Abriu mão da assinatura artística usada na TV e formou a dupla Edu Barreto & Rafael. “Meu empresário achou melhor limpar as referências ao Ídolos”, justifica.
Helena Manosso, vice-campeã da edição inaugural do MasterChef, em 2014, não decolou na gastronomia (Elisa Fernandes, a vencedora, se deu melhor: está em Paris trabalhando com o estrelado Alan Ducasse). Cozinha, ao lado do marido, em jantares particulares eventuais, mas ainda não se sente segura para deixar a função de engenheira química no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). “Fui convidada para muitas festas, mas elas não traziam dinheiro”, diz.
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Elaine, vencedora do No Limite, o primeiro reality da TV brasileira, em 2000, também não conseguiu capitalizar a fama. Seu livro de autoajuda, Vencendo os Limites, passou batido. “Não ganhei nada porque a editora disse que não houve vendas”, conta. Os 300 000 reais conseguidos na vitória derreteram com investimentos malsucedidos, como a aquisição de um estacionamento. Retornou há dois anos ao salão L’Officiel, no Itaim, onde era cabeleireira antes da experiência na televisão. No meio-tempo, tratou-se de uma depressão. “Foi um caso químico, mas essas decepções contribuíram com o processo”, acredita.
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Os shows especializados em emagrecimento compõem um paredão à parte nesse gênero e estão sendo postos em xeque desde maio, quando uma pesquisa mostrou que o emagrecimento muito rápido pode ser, na verdade, uma bomba para o organismo. Andréia Dutra (foto), vencedora da edição inaugural de O Grande Perdedor, é uma das que emagreceu e voltou a engordar. Leia mais sobre o assunto neste link.