Reality shows de emagrecimento podem ser uma bomba para o organismo
Perda de peso rápida, dentro ou fora da TV, pode fazer com que a pessoa engorde ainda mais, diz especialista; Andréia Dutra perdeu 30 quilos em atração e engordou 50
Foi da boca de Silvio Santos que Andréia Dutra soube, em 2005, que era a vencedora da edição inaugural de O Grande Perdedor, versão brasileira do Biggest Loser. Os 300 000 reais não representaram o único bônus para a então atendente de telemarketing. Ela havia pisado pela primeira vez no palco com 106,8 quilos, excessivos para seu 1,71 metro de altura. O peso baixou para 77,8 quilos depois de 96 dias de confinamento. O entusiasmo, porém, não durou muito.
O bistrô na Vila Mariana que ela abriu, investindo parte do prêmio, quebrou após cinco anos. Com dívidas, Andréia acabou perdendo o apartamento e o carro, também conquistados com o mesmo dinheiro. Como se não bastasse, recuperou a antiga forma física. De grama em grama, engordou até atingir os atuais 128 quilos, cerca de 50 a mais do que exibiu na tela. “Evitava sair de casa, pela sensação de fracasso por não ter mantido o peso”, relata. Hoje, aos 43 anos, é funcionária de uma agência de turismo e jura ter como meta voltar à dieta. “Mas é difícil encaixá-la na rotina, tenho trabalhado muito”, conta.
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Os shows especializados em emagrecimento compõem um paredão à parte nesse gênero e estão sendo postos em xeque desde maio, quando uma pesquisa mostrou que o emagrecimento muito rápido pode ser, na verdade, uma bomba para o organismo.
O estudo foi feito pelo Instituto Nacional de Diabetes e Doenças Digestivas e Renais, nos Estados Unidos. Seus especialistas acompanharam o que aconteceu, passados seis anos, com catorze participantes da versão americana do Biggest Loser, da NBC.Apenas um deles não recuperou parte da gordura ao desligar das câmeras — e quatro estão mais pesados do que no início. A dieta extrema tem boa parte da culpa. Diante de uma severa privação de calorias, o metabolismo da pessoa desacelera e o ex-obeso pode voltar a engordar em um prazo curto.Segundo a pesquisa divulgada na publicação Obesity, os ex-participantes passaram a queimar menos calorias que uma pessoa do seu peso atual.
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“O corpo entende a perda rápida como situação de falta de alimentos e passa a fazer um estoque”, explica Claudia Cozer Kalil, coordenadora do Núcleo Avançado de Obesidade e Transtornos Alimentares do Hospital Sírio-Libanês. Segundo o endocrinologista Marcio Mancini, responsável pelo ambulatório de Obesidade do Hospital das Clínicas, o tratamento deve ser acompanhado por um médico e inclui prescrições de remédios, programa alimentar, atividades físicas e, em alguns casos, acompanhamento psicológico. “É para o resto da vida”, ressalta o especialista.
Nos bastidores da Globo, virou piada o extinto Medida Certa, do Fantástico. Os resultados exibidos na telinha evaporaram rapidamente. Do ex-jogador Ronaldo ao cantor César Menotti, a recuperação do antigo “pânceps” tem sido a regra. “Desde o início, avisamos às pessoas que é preciso continuar se cuidando”, argumenta Marcio Atalla, educador físico responsável pela programação dos participantes.
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Como é comum com apresentadores desses programas, esse profissional se tornou uma estrela da área. Para os competidores desse e de outros campeões de audiência, porém, terminado o reality só restou uma coisa: cair na real.
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Andréia não foi a única participante desse tipo de atração a se frustrar com a retomada da vida, depois dos cinco minutos de fama de um reality show. Em reportagem desta semana de VEJA SÃO PAULO, competidores de diversos programas comentam o que acontece ao fim dos programas.