Derico está de volta. Cinco anos após o término do Programa do Jô, no fim de 2016, o músico conta que terá um show na TV a cabo e participações em um programa nacional da TV aberta. Além disso, voltou a se apresentar no Derico Music Truck, um caminhão-palco onde toca músicas instrumentais com o irmão, Serginho Sciotti. A estreia é no CEU de Heliópolis, nesta sexta-feira (18).
Você vai tocar em Heliópolis. Como funciona o projeto?
Tenho o Music Truck desde 2018. Peguei a grana do distrato com a Globo e investi em uma coisa minha, um negócio. Coloquei 300 000 reais e passei a levar meu palco comigo para qualquer lugar. Veio a pandemia, o truck ficou parado e está voltando agora. Começo em Heliópolis e a ideia é fazer shows em todos os CEUs de São Paulo, são 46. Se conseguir seduzir a prefeitura, tenho esse projeto. Em Heliópolis, eu mesmo vou bancar, como um cartão de visitas. Tem rolado as conversas com a prefeitura. Nas periferias tem muito músico instrumentista, tocar para esse público é um sonho.
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Por que quase não surgem mais novas bandas de relevância?
É a individualização da arte. As pessoas produzem sozinhas. É difícil uma geração compartilhar um sonho, como a gente tinha. Não é romantizar a coisa, mas a gente pegou Yes, Pink Floyd… Hoje as pessoas têm referências individuais. O que se perde é aquele grupo que pensa junto, como o Paralamas do Sucesso criava conjuntamente. Não há mais movimentos, como Bossa Nova, tropicalismo ou rock dos anos 80.
Como seria o Programa do Jô hoje?
O Programa do Jô era único. E só existiu porque o negócio de televisão era diferente. A TV não tem o mesmo protagonismo. O programa talvez não tivesse tanta audiência. Liberdade talvez tivesse, com arestas aparadas, porque hoje existe uma avalanche de espiões… O Capitão Gay, por exemplo, não existiria. Não pelo personagem em si, mas pelo que causaria. O próprio Jô pensaria no cancelamento… Então, é óbvio que mudaria.
Você declarou que gostaria de reencontrar o Jô. Conseguiu?
Falei, falei com ele. Mas reencontrar, não. Ele está restrito na pandemia, mais recluso… Mas conversamos. Ele é muito querido. Foram 28 anos juntos, uma relação de pai e filho. A gente se fala sempre.
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Como ele anda?
Bem, se cuidando, bem de saúde, quietinho, tomando vacinas. Agora que as produções voltaram, deve estar com a mesa lotada de projetos. A mente dele não para, é um cara muito produtivo.
A banda manteve contato após o fim do programa, em 2016?
Sim. O Tomate foi para os Estados Unidos, a gente se fala virtualmente. O Bira morreu em 2019. A gente teve uma única oportunidade de tocar junto antes de o Bira morrer. Fizemos um evento com o Quarteto (Osmar, Miltinho, Bira e Derico) em 2019. Foram cinco dias na Marina da Glória, no Rio de Janeiro. Foi bem legal.
Algum plano de tocarem novamente?
Ah, agora não… Principalmente depois que o Bira morreu. Aí, acabou. O Bira era o alicerce da banda, tinha um baita astral, todo mundo gostava muito dele.
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Como era o Jô como chefe?
Ele fazia o exercício do poder muito bem. Tinha certeza do que queria, mas também um dom de delegar muito raro, principalmente em alto nível. Quando eu fazia as paródias no programa, por exemplo, ele dizia apenas: ‘Bacana, surpreenda-me’ (Bacana é o apelido carinhoso entre ambos). Tinha a vaidade dele, como todo mundo. Mas eu acordava com vontade de trabalhar.
Sente falta da TV?
Não tenho saudade da TV, tenho saudade daquele esquema que a gente tinha no programa. Vou contar uma do Jô. Logo que entrei, moleque, 23 anos, comecei a ficar famoso mais por falar bobagens na TV do que por ser um músico que tocava bem. Aquilo deu uma fundida na minha cabeça. Pô, estudei fora, toquei com grandes maestros e fico famoso como Assessor de Assuntos Aleatórios? Um dia, eu entrei no camarim dele, no SBT, e falei: “Não dá mais”. Cheguei a pedir demissão, cara. Burrice! “Quero ir embora, ser músico…” Arrogância de moleque. O Jô olhou na minha cara e disse: “Senta aí, Derico, deixa eu falar uma coisa. O dia em que você for imprescindível, você entra aqui e fala isso. Por enquanto, você não é. Volta lá, se troca e vai trabalhar”. Aquilo virou a chave para mim. Entendi que ele gostava de mim. E que eu era só uma parte do Quinteto.
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Você já declarou que, nos últimos tempos do programa, não existia a mesma “liberdade”. O que mudou?
O Jô perdeu aquela luz, aquilo que fazia os olhos brilharem, por causa do que teria de fazer para brigar com a nova concorrência (como Danilo Gentilli e Fábio Porchat). E estava coberto de razão. O Porchat e o Gentilli chegaram fazendo a mesma coisa: mesma caneca, fundo, banda, convidados, tudo igual. Ele sacou que as coisas mudaram (na Globo) e que ele deixou de ser a estrela. Quiseram que ele ficasse só com as meninas (o quadro Meninas do Jô). Quando vem uma sugestão dessas, você percebe que não vai ser mais a mesma coisa.
O que acha dos novos talk shows, como o Conversa com Bial?
O programa do Pedro Bial não tem nem comparação. É um grande jornalista, muito preparado, mas não tem comparação (com o do Jô). É como alguém querer cantar O Bêbado e o Equilibrista como a Elis Regina. Não vai, nunca. A gravação dela foi definitiva. Aquele formato o Jô fez de modo definitivo. Quem vier depois vai partir dessa referência. Não assisto mais tanta TV, só jornal e esportes. Mas, profissionalmente, a minha linguagem é a TV. E vou voltar para a TV.
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Vai voltar?
Vou, na TV aberta e fechada. Tenho um podcast de entrevistas, o Derico Convida. O programa seduziu uma TV fechada, que pertence a um canal aberto (não revelou qual). Vamos fazer um programa meu na TV fechada, o Derico Convida. Não tem data, mas é para breve. A TV aberta (do grupo) quer inserir o truck em um programa nacional, uma pílula de cinco ou dez minutos. Então, vou voltar.
Qual a expectativa para as eleições?
Estou meio órfão. Sempre fui PT, quase me filiei. Agora, não sou PT como era e não me represento com o governo que está aí. Se me perguntar em quem vou votar, digo que em ninguém. Infelizmente. Tenho vergonha de falar isso, sou uma pessoa pública. Mas é a verdade, não posso mentir.
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Publicado em VEJA São Paulo de 23 de março de 2022, edição nº 2781