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União e crise na arte: como fica o comércio de obras durante a pandemia

Menos feiras, mais transparência na política de preços e reunião inédita de artistas e galeristas: como a pandemia impacta a produção e o comércio de obras

Por Tatiane de Assis Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 1 Maio 2020, 10h19 - Publicado em 1 Maio 2020, 06h00
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  • Lucas Dupin, de 34 anos, vive de arte desde 2017. Pai da recém-nascida Catarina, fruto da relação com a companheira, Ludmilla Ramalho, também artista visual, ele cumpre a quarentena em família em Belo Horizonte. Os planos de viver o primeiro ano da bebê em Minas Gerais e depois retornar à capital paulistana estão em suspenso. “Estou bancando as nossas despesas graças ao pagamento adiantado de uma obra comissionada”, explica o mineiro, cujos trabalhos custam, em média, 9 000 reais. Para fechar as contas, ele também dá orientação a profissionais em começo de carreira — atividade que foi interrompida devido à pandemia e rendeu um baque no orçamento. Um possível respiro para Dupin pode vir do movimento p.art.ilha, de dezessete pequenas e médias galerias, incluindo a Lume (SP) e a Periscópio (MG), que o representam.

    lucas dupin
    Lucas Dupin, em seu ateliê (à esq.), e Biblioteca por Vir #4 (à dir.; 2019): planos em suspenso (Reprodução/Reprodução)

    A primeira ação do grupo tem início nesta sexta (1º) e é um incentivo para os colecionadores agirem. Nesse primeiro mês, quem comprar uma obra receberá um crédito de igual valor para escolher outra peça da mesma galeria, porém de outro artista. No fim, o montante arrecadado será dividido proporcionalmente entre os artistas e a galeria. “Cada um dos membros selecionou um conjunto de obras que vai ser apresentado preferencialmente nos sites. No perfil @p.art.ilha, no Instagram, será possível ter um panorama”, detalha Thomaz Pacheco, da OMA Galeria, outra integrante da agremiação, que fará também doações a entidades sociais. “O impacto é no fluxo de caixa. Temos um respiro muito curto para seguir adiante. Se a quarentena durar quatro, seis meses, nossa reserva será consumida e teremos de fechar as portas”, afirma Pacheco.

    Luisa Strina
    Luisa Strina, em 1986: “Vamos voltar aos anos 70, quando fazíamos no máximo duas feiras” (Divulgação/Divulgação)

    Ainda na esteira da pandemia, as pequenas galerias tentam reverter a proposta da SP-Arte. Ao cancelar a edição deste ano, a feira pretende reter um terço do que foi pago pelos participantes. Da soma restante, metade seria devolvida e a outra parte ficaria como crédito para a feira de 2021. Afora os imbróglios circunstanciais, um novo rearranjo no mercado deve passar pela mudança de antigos hábitos, como o de “esconder” os preços. “Não mostrar o valor de uma obra não faz sentido. Experiências internacionais de sucesso, a exemplo da plataforma da (galeria americana) David Zwirner, já têm revisto isso”, afirma a pesquisadora independente Vivian Gandelsman, que mantém o projeto ArtLoad. “O colecionador não pode ser visto como mero cliente, ele é um ator social importante no circuito, que pode ajudar na manutenção de galerias e no fomento da produção.” Na mesma sintonia, a veterana galerista Luisa Strina acredita em mais transformação. “Não sou vidente, mas acho que vamos voltar ao que era o mercado nos anos 70, quando fazíamos no máximo duas feiras. Os artistas também produziam menos, porque não era essa correria”, diz Luisa. A volta ao passado, porém, está longe da nostalgia romântica, na sua visão. “Tudo vai encolher, o mundo inteiro vai ficar mais pobre.

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