Sergio Mallandro, 55 anos, foi descoberto por Silvio Santos no início dos anos 80, quando ainda morava no bairro da Lagoa, no Rio de Janeiro, e o colocou no seu dominical Cidade Contra Cidade (1981). Esse era apenas o início de uma carreira que iria perdurar por mais duas décadas, em televisivos como Show do Mallandro (1991-1993), na Rede Globo, Festa do Mallandro (1997), na extinta Manchete, e Programa Sérgio Mallandro (2003), na Gazeta, onde dividia o palco com as curvilíneas malandrinhas. No cinema, Sérgio chegou a contracenar com Renato Aragão, em O Trapalhão na Arca de Noé (1983), e com Xuxa, em Lua de Cristal (1990).
Com seus inconfundíveis bordões “ié-ié”, “glu-glu” e “pegadinha do Mallandro!”, o ator — Sérgio Neiva Cavalcanti, na certidão de nascimento — acumula hoje dois programas no canal Multishow (um deles, um reality show sobre sua rotina) e, seguindo a última tendência do humor, apresenta Sem Censura, um show de stand-up comedy que já rodou o Brasil e reestreia em São Paulo neste sábado (4), no Teatro Renaissance.
A seguir, Mallandro fala sobre a nova temporada em Sâo Paulo (no ano passado, foram apenas algumas apresentações em março), sua relação com o teatro e a nova temporada de Vida de Mallandro, prevista para estrear no segundo semestre.
VEJA SÃO PAULO — As pessoas já te conhecem da televisão, e mais recentemente acompanharam sua intimidade em um reality show. O que o público vai ver de novo no seu stand-up?
Sérgio Mallandro — Estou em cartaz com esse show há um ano e meio. A risada é garantida. Não precisa nem gastar com analista, eu sou a sua terapia.
Você pode falar um pouco mais sobre a apresentação? Eu interajo muito com o público. Conto histórias e situações verídicas. Muito é sobre os bastidores do meu programa de entrevistas no Multishow [Papo de Mallandro]. Já entrevistei Sandra de Sá, Inri Cristo e a Ariadna, do Big Brother. Ela chegou com muito medo de dar a entrevista para mim. Perguntei por quê, e ela disse “Ah, Sérgio, é que você é meio louco, né?”, e eu respondi: “Poxa, Ariadna, você que corta o pinto fora e eu é que sou louco?” Rá!
O show é codirigido pela sua ex-mulher, Mary Mallandro. Como é a relação entre vocês? É muito boa. Mas é claro que, no show, faço piadas sobre ela. Lembro de uma situação em que tínhamos uma casa na Rocinha, e ela estava dirigindo por lá e o carro quebrou. Aí ela andou para cima e para baixo, perguntando se ninguém tinha um fuzil para vender. Ela é meio desligada, sabe? Mas tadinha, ela pegou dengue. Não vai poder vir para a estreia em São Paulo.
O público paulistano é diferente dos demais públicos brasileiros? Eu acho que não. Lotei teatros em Belém, Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre e vejo que o público sempre reage de forma mais ou menos igual. Espero que São Paulo também seja assim.
Muitos humoristas da velha guarda andam tecendo críticas ao stand-up comedy, dizendo que falta criatividade aos comediantes. O que você acha desse tipo de humor? Eu acho o stand-up uma coisa fantástica. Quem me apresentou a esse mundo foi uma amiga, e na hora não entendi bem. Humor ‘estandarte’, o que é isso?! Mas aí ela me explicou que se tratava de um tipo de show com histórias do cotidiano. Então eu vi uma apresentação em um barzinho em Moema e resolvi que queria fazer também. Comecei fazendo apresentações para empresas e consegui uma temporada no Rio de Janeiro. Era algo em torno de dois meses, mas já estou nessa há mais de um ano e meio.
E a que você credita tanto sucesso? Acho que é porque as pessoas se surpreendem. Acham que eu vou subir no palco e fazer “glu-glu, ié-ié”, mas sou muito mais do que isso. Também conto alguns detalhes da televisão. Como foi fazer um filme com a Xuxa, mas é claro, de onde surgiu o “glu-glu, ié-ié”.
E de onde surgiu? Vem da mitologia grega, é claro. Quando tinha uma ideia, Aristóteles soltava um “ié-ié”. E Platão, quando bebia água fazia “glu-glu”.
Você acredita que as pessoas vão ao teatro para ouvir esses bordões? É o tipo de coisa que me persegue. Lembro que fui a um velório, estava muito triste, mas as pessoas ficavam brincando comigo, dizendo “pegadinha do Mallandro!”. É uma coisa que também ensino nesse show: onde e como se dizer “pegadinha do Mallandro!” sem parecer um idiota.
Além do show de stand-up, você tem outros trabalhos engrenados? A segunda temporada de Vida de Mallandro deve ir ao ar a partir de agosto no Multishow. Também estamos preparando um programa de pegadinhas.
Muitos dos seus fãs o consideram um ícone. O que você acha disso? Muita gente cresceu me vendo na televisão e tem muito carinho por mim, mas não me considero um ícone. Prefiro pensar que sou um grande brother dos meus fãs. Me sinto honrado em ser considerado um ícone, mas não sei se mereço tanto.