Parece coisa de cinema: após a morte de um familiar, parentes começam a receber cartas e mensagens com lembranças, desabafos e despedidas assinadas pelo ente querido. Essa é a proposta de Wladimir Chinchio, 41, e Valdemir Navarro, 54, criadores de um seguro de vida que mira bem no coração dos clientes e encaminha os vídeos e recados do segurado após sua morte. Chamada de seguro emocional, a Emotion Seguros nasceu incentivada, é claro, pela pandemia.
“No seguro comum, os beneficiados recebem um valor em dinheiro, mas o impacto emocional não é coberto. Por isso, eu e meu sócio criamos lá em 2016 um software para as seguradoras oferecerem essa opção de mensagens”, relembra Wladimir. Nenhuma quis abraçar o projeto, que só foi desengavetado em 2020, conforme o país passou a lidar cada vez mais com a perda e o luto. “Acabou sendo a tempestade perfeita para assumir uma linguagem mais leve na hora da venda, sem falar de morte, mas de bons sentimentos e celebração.”
A ideia já foi tema de filmes como P.S. Eu Te Amo (2007) e 18 Presentes (2020) e ganhou um tom ainda mais lúdico na abordagem da startup. “Ao apresentar o produto, não falo ‘quando você morrer’, falo ‘quando virar estrela’.” Na plataforma disponível para guardar os arquivos com memórias, vídeos e homenagens, as pastas foram apelidadas de “caixinhas de amor” e um assistente virtual, o Guido, conduz o usuário com sugestões de temas na hora de escrever algo novo.
“Eu tenho duas filhas, então criei uma caixinha para a Lorena e outra para a Lívia.” E quanto mais específico, melhor. “Dá para incluir todo o contexto biográfico, como o prato favorito e sua receita, a emoção na formatura da escola e quando minha filha andou de bicicleta pela primeira vez.” Listar dados financeiros, senhas para redes sociais e instruções sobre algum objeto específico também são opções úteis.
Para diminuir a burocracia, a empresa optou pelo preço fixo de 13,79 reais mensais, que dá direito à cobertura acidental de 15 000 reais e ao envio das lembranças, entregues em caixas com foto, recado e uma carta com o QR code para acessar as mensagens. Tudo isso após um psicólogo entrar em contato para explicar a surpresa deixada pelo segurado. “A pessoa não vai receber do nada, pois pode ter coisas boas… Ou não tão boas.”
Por enquanto, a novidade funciona em versão beta e deve ser lançada oficialmente até o fim de novembro. Segundo o fundador, o primeiro sinistro (o momento em que o assinante morre) ainda não aconteceu. “Felizmente e infelizmente não aconteceu, pois estamos nos preparando muito para acolher, surpreender e encantar.”
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Publicado em VEJA São Paulo de 3 de novembro de 2021, edição nº 2762