Ninguém continua o mesmo depois de ler Torto Arado, criação do baiano Itamar Vieira Junior. É hipnótico. Cinematográfico. Desconcertante. Logo nas páginas iniciais, brilha no ar a lâmina de uma faca escondida em uma mala e embrulhada num pano encardido em sangue. Um acidente acontece em seguida. Entra-se em um torvelinho. Não há mais como sair dele. Por isso, sorvi num único gole a história de Bibiana e Belonísia.
Dividida em três partes, a prosa poética edifica a trajetória dessas irmãs, mulheres fortes, lavradoras da Chapada Diamantina, quilombolas que vislumbram um futuro melhor. Itamar foge de armadilhas fáceis, não fala como as personagens, esquiva-se do caricato. Com linguagem sonora, musical, Torto Arado é para ser lido em voz alta. E seu refinado autor, premiado com o LeYa e o Jabuti, vem a ser a promessa de um dos grandes nomes da literatura brasileira do século XXI.