Pode-se dizer que as psicólogas Roberta Longo e Sonia Falcão Carvalho levam uma “vida dupla”. Em parte do dia, mãe e filha atendem pacientes de classe média alta no consultório que dividem no bairro do Morumbi. Na outra metade, lidam com uma realidade bem diferente: as tristes histórias de crianças carentes que foram vítimas de violência ou maus-tratos. As profissionais foram as fundadoras da Clínica Comunitária Grei, ONG em atividade desde 2004 que dá atendimento gratuito a cerca de 150 crianças por mês de doze instituições da capital, como escolas, creches e abrigos. “Elas vivenciam coisas que nem imaginamos ser capazes de acontecer”, conta Roberta.
Relatos de abandono e até de abuso sexual são comuns. “Já atendemos um menino que encontrou o corpo do irmão jogado numa caçamba e outro que viu o pai matar a mãe”, recorda Sonia. A ideia é fazer um trabalho similar ao desenvolvido em consultórios particulares: sessões individuais e semanais de cinquenta minutos, e o tratamento demora o tempo que for necessário — mais de um ano, em muitos casos. Para isso, Roberta e Sonia coor denam uma equipe de 23 profissionais voluntárias da mesma área, que vão até os locais onde as crianças se encontram. Com um apertado orçamento de 20 000 reais mensais, a ONG sobrevive de doações — muitas vezes, a dupla completa as contas com dinheiro do próprio bolso. “O esforço vale a pena, pois essas crianças são verdadeiras sobreviventes”, justifica Sonia.
Clínica Comunitária Grei. www.clinicagrei.org.br.