O trabalho à frente de uma instituição de arte contemporânea sem fins lucrativos levou a diretora Fernanda Brenner a ser incluída na lista das vinte jovens curadoras mais influentes da América Latina, segundo a plataforma especializada Artsy.
Chamado de Pivô, o espaço tem 3 500 metros quadrados (mais que o dobro da área expositiva do MAM) distribuídos por três andares na extremidade esquerda do Copan. O nome foi escolhido por representar um ponto fixo que sustenta o giro. “É o ambiente que reúne todos os agentes da cultura”, diz Fernanda. “O público acompanha o processo criativo dos artistas”, completa.
Uma equipe de nove pessoas, com idade entre 22 e 37 anos, viabiliza ali trabalhos de 35 artistas por ano. É possível conferir mostras gratuitas que mesclam nomes emergentes do mercado, como Flora Rebollo e Thiago Barbalho, a outras já consagrados, como Cildo Meireles e Carmela Gross.
Agora, por exemplo, está em cartaz a exposição imannam, com trabalhos de Laura Lima, Ana Linnemann e da renomada Anna Maria Maiolino. “A arquitetura a diferencia das salas tradicionais dos museus e galerias, porque aqui o artista se sente livre para criar”, diz Anna Maria.
A ideia do espaço nasceu por causa do prédio. Fernanda conheceu o local em 2008, ao filmar Plastic City, do diretor chinês Yu Likwai e produzido pela Gullane Filmes. Na época, ela trabalhava no departamento de arte da produtora. Cheio de salinhas interligadas por uma rampa e uma escada, o lugar foi pensado pelo arquiteto Oscar Niemeyer como uma espécie de área de serviço do Copan, icônico prédio do centro inaugurado em 1966. Durante vinte anos, abrigou um posto de saúde para empregados de um banco até ser desativado (e esquecido), em meados dos anos 2000. “Não entendia como um espaço daqueles permanecia abandonado”, lembra Fernanda.
Volta e meia, ela passava pelo local, e o incômodo de encontrar o ponto em ruínas retornava. Em 2011, marcou um café com o proprietário do lugar (que prefere não se identificar), um conhecido da família dela. Pediu a chave emprestada para abrigar ali, durante algumas semanas, obras de quinze amigos artistas que não tinham onde expor. “Deu tão certo que na abertura apareceram 3 000 pessoas, de personalidades da arte a skatistas que frequentam a Praça Roosevelt”, lembra.
No mês seguinte, Fernanda viajou para a Alemanha e para os Estados Unidos com o objetivo de pesquisar o mercado. Ao retornar para o Brasil, firmou um acordo de comodato com o proprietário. Pelo contrato, a associação fica isenta de aluguel e arca com despesas como condomínio e IPTU.
Começou, então, uma obra que durou sete meses para restaurar os traços originais idea lizados por Niemeyer. Em 4 de setembro de 2012, o mesmo dia da abertura da 30ª Bienal de Arte de São Paulo, ela inaugurou a Pivô com uma festa. Hoje, o orçamento gira em torno de 1 milhão de reais por ano e é financiado por doações e por um leilão anual de obras cedidas por artistas, tradicionalmente realizado em novembro.
Abrir a Pivô promoveu uma enorme reviravolta na vida profissional de Fernanda, que largou uma carreira de mais de dez anos no departamento de arte de produtoras audiovisuais. Ela começou na área aos 17 anos, como estagiária na O2 Filmes. Estudou cinema na Faap, mas abandonou no 3º ano, para ter mais tempo para as filmagens.
Em todas as suas escolhas, contou com o apoio dos pais — uma professora de português e um economista do mercado financeiro. “Sou de uma família de classe média; ninguém aparece em coluna social”, diz. Mas comenta com orgulho que a irmã mais nova, Luiza, fez pós-graduação na Sotheby’s Institute of Art, em Nova York, e é gerente da South Main Gallery, em Vancouver, no Canadá. “É a verdadeira artista da família”, afirma.
A jovem curadora até tentou criar suas obras, mas por autocrítica decidiu manter-se nos bastidores. A Pivô funciona de terça a sábado, das 13 às 19 horas, e a entrada é gratuita.