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Paulo Vieira: Sucesso na TV, de volta ao BBB e de mudança para um amplo apartamento no Copan

Apresentador e humorista fala sobre projetos, política e a rotina animada do icônico edifício do Centro

Por Pedro Carvalho
13 jan 2023, 06h00
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  • A cena é um tanto inusitada. Na sala vazia do apartamento em reforma, entre latas de tinta, ferramentas e escadas, Paulo Vieira segura um quadro a óleo de Tarsila do Amaral.

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    A tela é uma paisagem, com cactos em primeiro plano e, no céu, um círculo amarelo dividido em gomos triangulares. “Amo que o Sol é uma rodela de laranja, transforma o mundo em um grande drinque”, diz o apresentador, humorista e agora diretor artístico de programas da Globo, um dos destaques da emissora em 2022.

    Ao lado de Di Cavalcanti, Djanira e outros mestres da pintura, Tarsila vai decorar o apartamento de 250 metros quadrados que ele acaba de alugar no Copan, o edifício de Oscar Niemeyer na República.

    Imagem mostra homem de casaco e calça preta sorrindo apoiado em janela com vista para a cidade
    Vista para o Centro: carreira em ascensão. (Leo Martins/Veja SP)

    O acervo é o luxo particular do talento global, mas vai adornar o imóvel provisoriamente. “Meu projeto é criar um museu no Tocantins. Será o primeiro museu do mundo feito por um pobre, não um milionário com crise de consciência”, dispara.

    No janelão com vista para o quebra-cabeça de prédios do Centro, Vieira relembra a ascensão da carreira em 2022. “Tive um ano de colheita. A Globo entendeu que podia confiar em mim”, diz. “Devo o sucesso à dobradinha BBB e Fantástico: foi a mistura de alta exposição e alta credibilidade”, avalia.

    No programa dominical, ele apresentou o quadro Avisa Lá que Eu Vou (os episódios completos passam no GNT e a atração já ganhou uma segunda temporada), no qual descobre cantinhos e personagens do Brasil.

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    No reality, tinha a inserção Big Terapia, que volta ao ar em 16 de janeiro na edição de 2023. Era o ombudsman (a autocrítica) do programa — uma prova da confiança alcançada na emissora. “O Boni me falou: pode fazer o que você quiser. E cumpriu a palavra: nenhuma piada foi vetada” diz.

    Imagem mostra homem sorrindo, apoiado em parede, segurando quadro de Tarsila do Amaral
    Com Tarsila: “O Sol é uma laranja, o mundo, um grande drinque”. (Leo Martins/Veja SP)

    Criado em Palmas, no Tocantins, Vieira completou 30 anos (em novembro) no auge do sucesso, após altos e baixos na TV e na metrópole paulistana.

    “Comecei a vir para São Paulo nos tempos de faculdade, quando fazia shows de comédia na cidade. Depois, me mudei aos poucos, não existe uma data exata… Na cabeça da minha mãe eu ainda moro na casa dela (em Palmas). Outro dia comprei dois jogos de panelas: um para mim e outro para ela. Rolou aquela voz embargada ao telefone: ‘Então aqui não é mais sua casa…’ ”, ele ri.

    “Ensinaram o povo preto a não querer poder. Eu disse à Globo: ‘Quero mais poder’”

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    Viveu os momentos mais árduos na capital em 2015, quando morava — a contragosto — nos Jardins e teve um contrato encerrado na Globo, onde fazia parte da equipe do Faustão, mas quase não era escalado para as gravações.

    “Era um bairro hostil: muito prédio e pouca relação humana”, relembra. “Fiquei sem grana, fomos despejados do apartamento (ele morava com uma amiga). No mesmo dia, tomei banho em um posto de gasolina e fui fazer teste no programa do Fábio Porchat, na Record”, diz. Passou.

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    Mais que colegas de trabalho, Vieira e Porchat se tornaram amigos. “Paulo é a tempestade perfeita do humor: é engraçado, tem ousadia, é a cara do povo, tem uma ‘escrotidão’ no ponto certo, se posiciona, é inteligente, tem experiência de palco”, diz Porchat — que o escalou como padrinho de casamento, em 2017. “Ele está em alta, mas só começando, vocês não viram nada… Daqui a dez anos, o Paulo comprou a Globo”, ele brinca.

    Imagem mostra homem de camiseta branca e bermuda pulando em calçada, com um prédio ao fundo
    Em alta: o Bar da Dona Onça (ao fundo), onde tem mesa cativa. (Leo Martins/Veja SP)
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    Após morar em bairros como Ipiranga e Vila Mariana, Vieira encontrou uma alma gêmea na cidade: o Copan. Nos últimos cinco anos, alugou uma unidade de 33 metros quadrados no edifício, onde vivia com pouco mais que um colchão e uma arara de roupas.

    “O Porchat veio me visitar e achou que eu não estava legal (risos). No dia seguinte, mandou um caminhão com um frigobar e alguns móveis”, conta. No microcosmo diverso e descolado do condomínio, onde se empilham 1 160 apartamentos, Vieira descobriu personagens e histórias que o inspiram. Uma porção de histórias, por sinal.

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    “Outro dia, de madrugada, ouvi um chocalho no corredor. Abri a porta e tinha uma mulher com dois chumaços de plantas na mão, como pompons da Xuxa veganos. Ela disse: ‘Oi, sou a Mel, a Bruxa Boa do Bloco B’”, ele ri.

    Em outra ocasião, ao comprar um jogo de tarô, descobriu que morava no mesmo apartamento onde vivera o escritor Plínio Marcos. “A moça que entregou o material contou que trouxe a mesma encomenda para ele, vinte anos antes. Onde ele escrevia coisas lindas, hoje escrevo humor para a Globo”, brinca.

    Dia desses, subiu de elevador com os quatro Racionais MC’s — um deles, KL Jay, mora no prédio. “Ficou aquele silêncio. Aí o Mano Brown quebrou o gelo (imita a voz grave e séria do músico): ‘Aí, Paulo, curto muito seu trampo… (E ainda mais sério:) Altas risadas, mano’.”

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    Na volta ao “globoverso”, em 2019, Vieira foi alvo de uma concorrência de bastidores entre a emissora e a Netflix. O streaming, ele conta, chegou a dobrar a proposta salarial da TV carioca — o convite era para que criasse e dirigisse séries.

    Imagem mostra homem segurando chaves de apartamento
    “Não tem comida ruim no Centro. Vou a um PF ótimo de 17 reais”. (Leo Martins/Veja SP)

    “Preferi a TV porque sei qual público quero atingir. Quero participar da conversa nacional, e referenciar essa conversa”, diz. Ainda sem um programa próprio na TV aberta, tornou-se uma espécie de coringa na casa. Além dos quadros no BBB e no Fantástico, participou de atrações como a Escolinha do Professor Raimundo, e o Zorra, apresentou programas nos canais a cabo do grupo (como o GNT) e virou um “embaixador” da Globoplay.

    No embalo, tornou-se um nome requisitado do mercado publicitário, com campanhas para marcas como Nestlé, Claro e Brahma. “Tudo o que me pedem, faço na maior alegria, até vídeos do RH”, diz.

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    A postura comprometida agradou aos executivos da casa. “Apostamos no Paulo como embaixador da Globoplay porque ele representa um brasileiro que quer se ver na TV e no streaming. O resultado foi incrível. Vamos dobrar a aposta com Pablo e Luisão (série criada por Vieira que deve ser gravada em 2023), primeiro sitcom a explorar histórias do ‘Brasil profundo’”, diz Erick Bretas, diretor de Produtos Digitais e Canais Pagos do Grupo Globo. “Ele ainda vai voar muito alto”, completa.

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    Em 2022, o talento em ascensão renegociou o contrato e passou a assinar os próprios programas como diretor artístico. “Agora, cuido de quase tudo nas produções”, ele explica. “É uma luta por reconhecimento. O povo preto foi ensinado a não querer poder. Mas é o poder que muda as coisas. Essa foi a minha conversa com a Globo: quero mais autonomia, mais poder”, diz.

    No primeiro dia do ano, Vieira esteve no centro do poder — político. Na posse de Lula, em Brasília, apresentou a versão on-line do Festival do Futuro, o show musical do evento. Durante as eleições, manifestou várias vezes apoio ao petista.

    Imagem mostra homem sorrindo apoiado em janela, com o braço para fora
    Mudança: apê de 250 metros quadrados. (Leo Martins/Veja SP)

    “A orientação da chefia é não associar (a preferência política) à marca da empresa, não fazer postagens de dentro da emissora, não trazer a campanha para os programas. Mas, nas redes sociais, fui bem livre”, diz. “Sobre apresentar o festival, não houve questionamento. Também não perguntei”, ele ri.

    Autonomia é algo caro a Vieira, não só nos posicionamentos pessoais, mas na criação artística. “Quero meu espaço, meu programa (na TV aberta). Estou flertando com isso”, diz.

    Por mais poder que conquiste, porém, nas imediações do Copan ele parece ser só mais um vizinho da turma. “É um garoto muito simples e normal com todos”, afirma Agamenon Costa, garçom do Bar da Dona Onça, onde Vieira tem mesa cativa.

    “Gosto também do Cuia, do Aboud Shawarma, do Bar do Estadão”, diz Vieira. “Não tem comida ruim no Centro. Vou a um PF ao lado do Copanzinho de 17 reais que é ótimo”, ele conta. “Viajo muito para as gravações, mas São Paulo é o lugar que eu amo”, conclui. “É a minha casa.”

    Publicado em VEJA São Paulo de 18 de janeiro de 2023, edição nº 2824

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