Em cada canto dos seis andares do Centro Cultural Banco do Brasil, criaturas estranhas produzidas pela artista Patricia Piccinini são admiradas de perto. Os visitantes têm as mais curiosas reações, que vão desde comentários emitidos com feições de nojo até outros que soam a fofura. É preciso esperar um pouco em frente aos seres que saíram da imaginação da australiana, para que se adaptarem aos nossos padrões. Na última segunda-feira (12), a mostra ComCiência foi inaugurada com 9 000 visitantes: para o curador Marcello Dantas, é a curiosidade de encarar os seres inexistentes vêm trazendo grande número de público: “foi algo da estranheza das criaturas que bateu no coração do brasileiro”. Veja abaixo, quatro motivos para visitar a exposição:
1. Apesar de serem nojentos, por vezes, grotescos, os seres criados pela artista não causam repulsa, mas incitam a curiosidade e a vontade do visitante se aproximar: eles são dóceis e acolhedores e são sempre dotados de um olhar profundo e simpático. Ao criá-los, Patrícia cria uma hipótese do que pode vir a ser o futuro da humanidade: eles são nada mais do que a evolução de espécies, devido à mistura de DNA. Um bebê acrobata em formato de foca, um velho que parece uma baleira, e uma flor constituída de carne que bota ovos. Todos são misturas de elementos já existentes – quem disse que eles não podem passar a existir?
2. Os seres são constituídos principalmente por silicone e cabelos humanos. Os maiores, como Grande Mãe, um primata que amamenta seu filhote, exigiu o trabalho de cinco especialistas por dezoito meses. Flor Bota, escultura construída no meio de uma grandes instalação no terceiro andar da mostra, não conseguiu ser concluída antes de fazer sua viagem da Austrália para o Brasil. A especialista em cabelos viajou o mundo para colocar fio por fio no corpo da criatura.
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3. Alguns seres foram moldados a partir de pessoas próximas a Patricia: O Visitante Bem-Vindo, que mostra uma menina sendo abraçada por uma criatura com pás no lugar de pernas e braços, é a sua filha. A Confortadora, ser feminino que tem pelos como um lobo e carrega outro serzinho com características de bebê, faz referência a uma doença existente, porém rara: a hipertricose, caracterizada pelo crescimento excessivo de pelos.
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4. Ao longo da exposição, o visitante começa até a achar normal a convivência com as criaturas absurdas. Os vídeos e fotos distribuídos pelos seis andares trazem as criaturas para o mundo, e “registra” a relação entre seres humanos e elas, tornando ainda mais real a hipótese deles passarem a existir. O mais interessante deles é o filme Afetuoso, que mostra um jovem casal que convive com flores peludas e cheias de orifícios e cachorros monstruosos.