Musical no Brasil virou sinônimo de diversão, programa leve e grandioso para aliviar a fadiga semanal. Por isso, os temas abordados raramente põem o dedo na ferida do espectador. Quase Normal, versão adaptada e dirigida por Tadeu Aguiar para o espetáculo de Brian Yorkey e Tom Kitt, surge como exceção e dialoga com questões da sociedade contemporânea. Fortemente ancorada na dramaturgia, a peça enfoca o cotidiano de uma família que precisa administrar as emoções em nome do equilíbrio.
Diana (interpretada por Vanessa Gerbelli Ceroni) é uma dona de casa diagnosticada com um transtorno bipolar. Em uma crise acentuada, ela encara uma conturbada convivência com o marido, Dan (papel de Cristiano Gualda), e com os filhos adolescentes, Natalie (Carol Futuro) e Gabriel (Olavo Cavalheiro). As implicações de seu comportamento na rotina familiar e suas tentativas de tratamento — desde a negação até o uso de medicamentos e a aplicação de eletrochoque — sustentam a narrativa.
Por esse pesado componente dramático a montagem se mostra tão focada no musical, gênero reafirmado em temas de tom intenso a todo momento. Em praticamente 80% do tempo, as falas são dadas através de canções, algo pouco visto nos musicais atuais. As letras em português, nem sempre em versões coloquiais, algumas vezes amenizam a densa história de Diana, muito bem defendida por Vanessa. Em pé de igualdade aparece Carol Futuro, capaz de dosar a voz afinada com o vigor na atuação. Quem destoa, sobretudo pela importância do papel, é Cristiano Gualda. Cantor competente, ele carece de expressividade para viver o marido atormentado pela instabilidade da mulher. No palco ainda estão os atores André Dias e Victor Maia, além de sete instrumentistas sob a direção musical de Liliane Secco.
AVALIAÇÃO ✪✪✪