Mais importante e influente gravador da história da arte moderna brasileira, o carioca Oswaldo Goeldi (1895-1961), felizmente, não costuma ficar muito tempo fora de cartaz na cidade. O Museu de Arte Moderna, por exemplo, encerrou em agosto uma ampla retrospectiva de sua obra, intitulada Sombria Luz e composta de cerca de 200 trabalhos. Agora, a Estação Pinacoteca amealha no Gabinete de Gravura Guita e José Mindlin um conjunto de 56 peças realizadas entre 1924 e 1960, todas pertencentes ao acervo da instituição.
Filho do naturalista suíço Emílio Augusto Goeldi, ele passou alguns anos da infância em Belém. Ainda na juventude, mudou-se com a família para a Suíça, onde deu início à formação artística. Nessa época, chegou a conhecer o desenhista austríaco Alfred Kubin, a principal influência em sua carreira, com quem manteve uma frutífera correspondência durante décadas. De volta ao Brasil, em 1919, estabeleceu-se no Rio de Janeiro, e ali ficou pelo resto da vida.
Os trabalhos de inflexão expressionista que fizeram a fama do artista e o tornaram respeitado na genealogia gráfica do país não ficaram de fora da nova montagem, de curadoria de Carlos Martins e organizada de maneira cronológica. Estão lá os jogos de sombras, as temáticas sociais, a visão profundamente pessimista do mundo e personagens como pescadores, ladrões, prostitutas e urubus, sempre em ruas vazias do subúrbio ou em frente a casarões abandonados.
Há, contudo, itens surpreendentes: xilogravuras nas quais ele experimentou cores fortes e intensas, pouco exibidas em mostras. Caso da quase idílica Jardineiro, do amarelo bem claro de Areia do Mar e, sobretudo, do vermelho berrante de Eclipse. Também integram a montagem ilustrações para reportagens de jornais, contos e romances. Nesses últimos, constam os desenhos criados para ilustrar, por encomenda do editor José Olympio, livros do escritor russo Fiódor Dostoiévski, com quem Goeldi guardava semelhanças estéticas.