Em meio à febre de musicais que assolou o país, fica uma pergunta: existem tantos expoentes significativos para dar conta da produção incessante do gênero? Lançado na Broadway em 1964, Alô, Dolly! foi montado no Brasil dois anos depois por Bibi Ferreira. Tem uma história simples, não exige efeitos visuais e os números musicais são singelos. Então, afinal de contas, por que Miguel Falabella e Marília Pêra decidiram reencená-lo? A resposta é simples. Trata-se de um texto delicioso, que permite aos protagonistas brilhar à vontade.
Quem busca leveza e diversão não ficará desapontado com a versão dirigida por Falabella para o original de Michael Stewart e Jerry Herman. “O casamento é um artifício sob o qual um homem convence a empregada de que ela é a patroa”, afirma Dolly Levy (interpretada por Marília), e a plateia cai na risada, despreocupada com a piada machista. Prática, a viúva tornou-se uma especialista em unir solitários ou, em outras palavras, uma cafetina disfarçada de casamenteira.
O coração fica vulnerável quando ela ganha um novo cliente, o comerciante Horácio Vandergelder (papel de Falabella). Sem o sujeito se dar conta, Dolly o conduz a uma série de armadilhas até ele perceber que ela própria pode ser a mulher ideal para o seu futuro. Entre dezesseis instrumentistas regidos por Carlos Bauzys e 27 atores, a dupla pinta e borda. Marília, dissimulada, valoriza cada fala e domina as canções. Uma surpresa: ver Falabella, mesmo sem cantar bem, seguindo à risca uma composição de personagem e longe dos improvisos. O maior trunfo de Alô, Dolly! é ser conservador na essência e, por assumir a característica, oferecer a saborosa parceria de Falabella e Marília.
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