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Meu Maracanazo

A Copa de 1994 foi responsável pela minha carreira de cronista. A de 1998 provocou o fim do meu primeiro casamento. Vivi as duas intensamente. Mas talvez nenhuma outra tenha tido o mesmo impacto que a da Espanha, em 1982. Foi ela que me fez querer ficar no Brasil. Adquiri com os brasileiros o hábito […]

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 14h22 - Publicado em 13 jun 2014, 20h31
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  • A Copa de 1994 foi responsável pela minha carreira de cronista. A de 1998 provocou o fim do meu primeiro casamento. Vivi as duas intensamente. Mas talvez nenhuma outra tenha tido o mesmo impacto que a da Espanha, em 1982. Foi ela que me fez querer ficar no Brasil.

    Adquiri com os brasileiros o hábito de marcar o tempo em períodos de quatro anos, de acordo com os Mundiais, como se vê. Era jovem em 1982. Tinha 24 anos.

    Começara a estudar a história do futebol no Brasil três anos antes, graças ao José Carlos Sebe Bom Meihy, meu professor no intercâmbio que fiz na Universidade de São Paulo. Ele se encarregara de me apresentar a cultura popular do país.

    Naqueles tempos, diferentemente de hoje, havia pouca coisa boa publicada sobre a evolução do esporte “bretão” no Brasil. Entre as exceções estavam O Negro no Futebol Brasileiro, livro glorioso de Mario Filho (irmão de Nelson Rodrigues), e um ensaio sinuoso e cheio de bossa de Anatol Rosenfeld sobre o inventor da bicicleta, Leônidas da Silva. Neste, o cronista alemão interpreta a maneira de jogar dos brasileiros como uma das mais altas expressões artísticas do país. Fiquei empolgado com aquilo. E fui atrás. Passaria os próximos anos enfronhado nas maravilhosas bibliotecas americanas em busca do fio da meada da cultura popular brasileira.

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    Quando começou a Copa de 1982, eu estava em ponto de bala, portanto. Jovem e apaixonado pelo Brasil, assisti aos primeiros jogos num Centro de Estudos Latino-Americanos na Califórnia, junto com “los hermanos”, como se diz hoje. O time brasileiro era lindo de ver. Jogava por música. Zico, Sócrates, Falcão, todos no auge. Só artistas. Rosenfeld tinha razão, pensei, durante uma das partidas. Assistir aos 3 a 1 contra a Argentina do Maradona ao lado dos compatriotas do próprio não tem preço, diga-se. Os brasileiros vingaram o resultado discutível da Copa de 1978.

    Horas depois, entrei num avião e vim para São Paulo, pronto para encarar o time da Itália. O motivo alegado para a viagem da Califórnia até aqui era “pesquisa”. Precisava ver a reação brasileira diante da vitória na Copa. Para quem, como eu, estudava festas e cultura popular no Brasil, não poderia haver momento maior. Convenhamos.

    Perder, àquela altura, não me passava pela cabeça. Enturmei-me com os amigos paulistanos na Associação Alumni, uma escola de inglês na qual trabalhara em 1980, então nos Jardins. Estava lotada a sala do telão. Todos ali torciam pela seleção, é claro. Do resto, não me lembro, confesso. Tenho uma vaga recordação, apenas, de perambular, meio perdido, pela Avenida Paulista em meio a brasileiros que choravam, depois da derrota por 3 a 2. Foi o meu Maracanazo, meu e de muita gente, de toda uma geração, desconfio. No mínimo. Aprendi, ali, e para sempre, que a arte e a vitória nem sempre andam juntas. Mas continuei a torcer pela arte. #vaiBrasil.

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