Três garotos embarcaram nos ônibus que circulam na madrugada paulistana durante três meses atrás de histórias que envolviam os passageiros. O coletivo, que funciona em 151 linhas que percorrem os principais trajetos na cidade entre meia-noite e 4 horas, nomeia também o projeto literário: Noturno.
Os relatos, engavetados desde 2016, deram vida às narrativas que formam o instalivro (obra em formato de livro no Instagram) @cronicasnoturno. Os textos foram publicados por Lucas Alves, 25, Marcos Candido, 27, e Rafael Moura, 29, entre novembro de 2020 e abril deste ano. Os colegas se conheceram na faculdade enquanto cursavam jornalismo e compartilhavam o gosto em escrever crônicas.
“Dependemos do transporte público a vida inteira. Quando os ônibus noturnos foram criados, ficamos maravilhados porque a gente podia dar rolé sem esperar o metrô abrir às 4h40 (aplicativos de transporte ainda não eram tão conhecidos). Depois surgiu o interesse em descobrir quem são as pessoas que usam aquele meio de transporte”, explica Lucas.
Entre as histórias dramáticas ou cômicas, estão a de um chapeiro de padaria que sofre com homofobia, de um grupo de garçons que aposta tudo o que ganha no baralho e de uma motorista de ônibus, dona de um “bigode fino”, que ama o que faz. “O noturno oferece um cenário diferente daquele enfrentado durante o dia — onde há assentos lotados e pressa para chegar em casa. O espaço se torna um lugar acolhedor e íntimo. Sentávamos ao lado dos viajantes para trocar ideia ou só observávamos o que acontecia ali”, diz o jornalista.
A designer Tuia (@eusouatuia), 30, amiga dos autores, é responsável pelas ilustrações do projeto. São predominantes o amarelo, tons de roxo e formas geométricas que retratam o principal elemento de cada história.
+Assine a Vejinha a partir de 8,90.
Publicado em VEJA São Paulo de 02 de junho de 2021, edição nº 2740