Quem sobe de carro pela Rua da Consolação corre o risco de não notar, logo acima da Universidade Presbiteriana Mackenzie, uma casa amarela do século XIX de arquitetura eclética, conhecida como Chácara Lane. Reformado pela prefeitura, com resultado consistente e a um custo de 1,3 milhão de reais, o imóvel foi reinaugurado em dezembro. Batizado de Gabinete do Desenho, passa agora a abrigar mostras realizadas a partir do acervo de cerca de 2 000 peças da Coleção de Arte da Cidade. Terão lugar também montagens temporárias. Sob organização do curador Agnaldo Farias, Da Seção de Arte ao Prêmio Aquisição: a Gênese do Gabinete do Desenho se encaixa no primeiro caso.
A coletiva reúne obras de 28 artistas, entre desenhos, gravuras e livros ilustrados. Sobressai a impressionante seleção modernista. Marcam presença, por exemplo, um estudo para o célebre óleo A Negra, de Tarsila do Amaral, e uma água-forte de cores intensas do catalão Joan Miró, além de trabalhos de Livio Abramo e Di Cavalcanti. Uma ótima ideia foi a inclusão de uma sala com gavetas para o público apreciar as criações — protegidas por um vidro — bem de perto. Ali ficam guardados sobretudo itens da metade do século passado.
Há curiosidades, como a abstração geométrica de Carlos Scliar e as figurações pouco conhecidas de Yolanda Mohalyi e Arthur Luiz Piza. Dos mais contemporâneos, preste atenção na espessura de tinta de uma acrílica sobrepapel de Sergio Romagnolo (um de seus famosos Fuscas), nos milhares de carrinhos do argentino León Ferrari e na reunião inusitada de materiais de Nuno Ramos na irônica Paranelson (Sei que É Doloroso um Palhaço). O segundo andar do charmoso centro cultural hospeda uma exposição com trabalhos emprestados e de resultado mais irregular, intitulada desenho esquema esboço bosquejo projeto debuxo ou o desenho como forma de pensamento.