Em 1979, quatro anos depois de estourar com Filho da Bahia, da trilha sonora da novela Gabriela, a cantora Fafá de Belém amargou a primeira crise da carreira. Como de praxe para os novos talentos, emendava trabalho atrás de trabalho, e seu corpo não deu conta. Teve síndrome do pânico e problemas na coluna.
Ficou literalmente travada diante da plateia em uma casa de shows no Rio. Foi retirada do palco sob vaias e, a partir dali, massacrada por imprensa e público. Dedicou-se a descansar, fase em que cruzou com Elis Regina em São Paulo. “Não deixe que eles amarguem seu sorriso, como fizeram com o meu”, ouviu da colega. “Não me decepcione.” Aos 61 anos, Fafá relembra o encontro ao falar da habilidade de cair de pé e reinventar-se, desenvolvida em suas quatro décadas de carreira.
A mais recente demonstração pode ser vista na novela das 9, A Força do Querer, que deu à Globo audiência inédita desde 2013. No folhetim, Fafá interpreta a cantora Almerinda. “Recebi a autora, Gloria Perez, para falar sobre o Pará, retratado na história”, conta. “Ela me convidou para uma participação, mas não achei que fosse rolar.”
Um dos picos de ibope se deu em um capítulo estrelado por ela, em 1º de agosto, quando o caminhoneiro Zeca (Marco Pigossi) descobriu ser filho de sua personagem. O papel caiu no gosto popular e acabou esticado até o fim da trama, previsto para outubro. A última incursão da intérprete em um folhetim havia se dado em Caminhos do Coração, da Record, dez anos atrás. No enredo protagonizado por mutantes, encarnou uma dona de circo.
Antes do mergulho atual na ficção (ela não descarta outros), exercitou a veia dramática durante três meses no Show dos Famosos, quadro do Domingão do Faustão finalizado em julho. No programa, emulou medalhões da música como Alcione, Maria Bethânia e Luiz Gonzaga, sempre com estardalhaço nas redes sociais.
Ah, a internet é ingrediente fundamental para entender o bom momento da estrela. Com personalidade esfuziante e uma inconfundível gargalhada, Fafá arrebanhou mais de 900 000 seguidores nas redes. Muitos dos novos fãs eram jovens demais ou nem tinham nascido quando a diva ocupava paradas com Nuvem de Lágrimas, de 1989, ou Vermelho, de 1996.
Uma coisa alimenta a outra: a web fez dela um nome quente e as aparições na TV turbinam a popularidade digital. “Vi minha mãe em mais programas da Globo neste ano do que nas duas décadas anteriores somadas”, afirma sua filha única, a blogueira Mariana Belém, mãe de Laura, 5 anos, e Júlia, 1.
Quando não está em palcos ou em estúdios, Fafá fica todo o tempo possível com as netas em seu dúplex nos Jardins, onde vive sozinha — solteira, teve relacionamentos num passado distante com o músico Raul Mascarenhas e com Ali Kamel, diretor de jornalismo da Globo.
Costuma receber amigos para reuniões. Nessas horas, a anfitriã vai para o fogão. Suas especialidades são vatapá e macarronada. Também gosta de comer em restaurantes como Mocotó e Pasquale. Passa ainda boa parte do ano em sua casa em Portugal, decorada, como a de São Paulo, com diversos santos católicos.
A atual reinvenção de Maria de Fátima Palha de Figueiredo começou com o álbum Do Tamanho Certo para o Meu Sorriso, de 2015. Fazia uma década que não tirava do forno um trabalho inédito e, ao pesquisar preços, esbarrou em orçamentos da ordem de 300 000 reais.
Ligou para o DJ Zé Pedro, dono do selo Joia Moderna, e lhe perguntou se não queria fazer um disco de remixes. “Claro que não! Uma artista da sua estatura pode muito mais”, indignou-se o DJ. Em seguida, gravaram as dez canções, entre as quais se destaca Meu Coração É Brega. “No fim, o álbum saiu por 4 500 reais”, afirma Zé Pedro.
O passo seguinte foi gravar um DVD com produção de Paulo Borges, da São Paulo Fashion Week. Fafá dedicou-se, então, a uma turnê, gargalhando Brasil adentro. A próxima apresentação em São Paulo está marcada para 14 de novembro, no Teatro Porto Seguro. Fafá prepara ainda uma biografia e um filme sobre sua vida, sem datas de lançamento. Elis Regina ficaria orgulhosa.