Em uma sala totalmente escura, uma peça é encenada sem que o público veja os atores. Os espectadores acompanham o enredo por meio do olfato, tato, paladar e audição. Essa é a premissa do Teatro Cego, projeto da produtora C3 Projetos Culturais. O breu também serve como cenário para o Jantar Cego, experiência gastronômica com quatro etapas de pratos. Antes realizados de forma itinerante, ambos têm agora uma casa: o Espaço Dive, na Avenida Morumbi, no Brooklin, Zona Sul.
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“Quando você entra na escuridão, existe um incômodo, uma ansiedade”, afirma Luiz Mel, músico que fundou a C3 em 2005 com o irmão Paulo Palado, ator. A ideia do Teatro Cego veio em 2012, após uma viagem à Argentina, onde depararam com o conceito. Em conjunto com artistas com deficiência visual, adaptaram-no para a realidade brasileira.
O Jantar Cego foi criado em 2018, com base em experiências europeias. “A escuridão abre a possibilidade do não julgamento, de conhecer e conversar com uma pessoa sem aquela primeira impressão com base na aparência”, comenta Luiz. O público é servido no escuro, de modo a abdicar da visão e a usar os outros sentidos.
O espaço chega com uma novidade, o Boteco Cego, que será lançado no dia 10 de junho. A experiência vai além dos comes e bebes do jantar e, por meio da degustação de aperitivos e tipos de cerveja e de uma apresentação musical, tem o objetivo de conduzir o público a uma viagem pelas diferentes comidas de boteco do país. A gastronomia é assinada pelo chef Adilson Garcia, com consultoria da empresa Coze.
Para o sócio da produtora, os projetos colocam as pessoas com deficiência visual no centro das atenções e em uma posição de poder, e também com a noção de empatia, de “se colocar no lugar do outro e entender como ele vive”. “Normalmente, esses artistas são marginalizados. Aqui, eles dizem que ficam felizes por sair da penumbra social”, afirma.
O Espaço Dive realizará o Jantar Cego quinzenalmente, às sextas e sábados, enquanto o Teatro Cego segue em turnê pelo Sudeste do país até agosto com o espetáculo Clarear pra Juventude — futuramente, todas as peças serão realizadas na nova casa.
Publicado em VEJA São Paulo de 31 de maio de 2023, edição nº 2842