Quase terapia, só que mais barato, escrever um diário pode ser uma forma de relaxar, de se conhecer melhor e de contar as histórias dos nossos tempos. E que tempo poderia ser mais singular do que o de uma pandemia para começar a fazer esses registros? “O diário é comum em técnicas de psicoterapia para organizar o cotidiano a partir de relatos e sonhos”, explica Luciana Siqueira, psiquiatra do Ambulatório de Ansiedade. “Quando escrevemos, precisamos colocar em palavras nossos pensamentos, o que nos faz identificar o que estamos sentindo”, complementa a psicóloga Rosalina Moura. “Essa prática me ajuda a visualizar o que está acontecendo e como reajo”, confirma Laís Dias, 18, que usa parte das anotações para compor canções. “Quando releio algum trecho, consigo lembrar exatamente o que senti na hora.”
Ao completar 80 anos, Juliano Rolando Forster, hoje com 87, decidiu compilar os textos, recortes e desenhos que reúne há décadas para escrever seu livro de memórias. São lembranças de infância, poesias e relatos pessoais. “Eu já tinha plantado uma árvore e feito um filho, só faltava escrever um livro, uma das formas de justificar minha passagem por este mundo”, acredita Forster, que na pandemia passou a escrever outro diário. “É terapêutico relembrar as fases da vida.”
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Para a astróloga Sara Koimbra, 37, é uma maneira de acompanhar o progresso profissional. “Descrevo coisas que descobri nos meus atendimentos e o que poderia ter melhorado. É um arquivo de tudo o que aprendi”, resume. Sara mantém o ritual de sempre escrever com a caneta que trouxe de uma viagem especial. Escolher um objeto favorito ou caderno com estampas alegres também pode trazer mais graça ao hábito, seja ele diário, seja ele semanal. Variar na linguagem é outra ideia prazerosa: vale apostar em colagens de fotos e papéis que traduzam os detalhes mais passageiros da rotina, como um bilhete enviado pelo amigo, a lista de compras da semana em plena quarentena (quando o preço do arroz virou notícia) e itens que queira guardar para rever no futuro.
“O diário também é um retrato do momento que estamos vivendo e pode ficar para a posteridade”, aposta Luciana. Muitos torcem pela privacidade ao escrevê-lo, mas há também a possibilidade de torná-lo público. “O melhor é que ele seja escrito a mão, sem muita elaboração e preocupação com a qualidade do texto. A escrita livre, deixando-se levar pelos sentimentos e pensamentos, é a melhor”, conclui Rosalina.
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Publicado em VEJA São Paulo de 14 de outubro de 2020, edição nº 2708.