Na adolescência, a bailarina Fernanda Bianchini costumava visitar com os pais o Instituto Padre Chico, no Ipiranga, tradicional centro de apoio a deficientes visuais. Estimulada pela família a se envolver em um trabalho voluntário, escolheu a área para atuar. O projeto surgiu em sua cabeça quando alguém lhe perguntou se um cego podia dançar, e, em 1995, ela abriu uma escola para oferecer aulas gratuitas a esse tipo de aluno.
Atualmente, no espaço na Vila Mariana, dez professores atendem cerca de 100 pessoas, que aprendem gratuitamente sapateado, dança flamenca, balé clássico e outros estilos. O ensino envolve o toque e a percepção corporal. Fernanda mexe os braços e pernas das pupilas para simular os passos. Depois, as próprias estudantes acompanham, com as mãos, os movimentos executados pela mestre. Desenvolvido ao longo dos anos, esse método foi estruturado em uma dissertação de mestrado apresentada em 2005 na Universidade Mackenzie.
Com um orçamento mensal de 35 000 reais, a Associação de Ballet e Artes para Cegos Fernanda Bianchini sobrevive de doações, projetos financiados pela Lei Rouanet e apresentações em empresas privadas. Neste mês, a instituição ganhou um incentivo com a conquistado Prêmio Juscelino Kubitschek, concedido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) a entidades que se destacam nas áreas cultural, social e científica. Superou 388 concorrentes de vários países para receber um investimento de 50 000 dólares. Além de excursionar pelo Brasil, o grupo participa de espetáculos no exterior.
O momento mais marcante ocorreu na Paralimpíada de Londres, em 2012. “Tenho orgulho quando as alunas são aplaudidas como artistas profissionais, e não tratadas como coitadinhas”, relembra Fernanda. Um dos destaques é Geisa Pereira da Silva (na foto acima, com Fernanda), que perdeu a visão aos 9 anos de idade. Hoje aos 26, ela brilha nos palcos junto com a companhia e também ensina colegas. “Quando a vejo dançar, tenho a sensação de que ela esquece a própria deficiência”, elogia a professora.