Logo no início dos anos 90, o dramaturgo Philip Ridley chocou plateias conservadoras da Inglaterra, tão acostumadasa um teatro formal, ao lançar Disney Killer. Passadas duas décadas, o espetáculo dirigido por Darson Ribeiro mantém o texto como um certeiro torpedo contra a paranoia da vida atual. Depois de um ano e meio, período em que esteve também no Rio de Janeiro e em Curitiba, a montagem brasileira faz três derradeiras sessões no Centro Cultural São Paulo.
No drama, os gêmeos Presley e Haley (vividos por Ribeiro e Juliana Calderón) ficam reclusos em um mundo própriopara se proteger — e se privar — da violência e da luxúria. Eles fazem uma dieta à base de chocolate e pílulas para dormir. A chegada de um homem, Cosmo Disney (o papel de Dan Nakagawa), revoluciona a rotina dos irmãos. O que chama atenção é o fato de a infantilização dos adultos — mais visível nos últimos dez anos, com o avanço da tecnologia — ter sido tão bem retratada por Philip Ridley tempos antes. A encenação equilibra forte realismo com elementos de fábula.
Quem tem estômago mais fraco até estranha alguns momentos, como aqueles em que os atores simulam comer baratas. Nessa crueza explícita reside a proposta de sacudir o público. Como intérprete, Darson Ribeiro cria um Presley ingênuo e com uma pitada de homossexualidade e de incesto. Juliana Calderón tem presença marcante, e sobressai sem dizer uma palavra na simbólica cena de sexo dividida com Nakagawa.
Vivaz e enérgico, ele injeta fantasia e ritmona sombria trama. Alexandre Tigano completa o elenco.
AVALIAÇÃO: ✪✪✪