Grupos de teatro alternativo da capital têm diversificado cada vez mais os espaços para apresentar suas produções. A lista vai desde galpões, passando por casas, bares, ônibus e até contêineres, como é o caso da Cia. Mungunzá de Teatro, que há cinco anos montou sua sede em um terreno público na Santa Ifigênia, no Centro.
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O teatro é, na verdade, a junção de dez contêineres marítimos, que comportam, além do palco, plateia para 100 pessoas, bilheteria, banheiros, lanchonete, camarim e salas ocupadas por coletivos e organizações dos moradores da região. “Nós nos apresentamos em locais diversos, já transformamos quadra de escola em palco, por exemplo, mas nossa sede fica disponível para outras companhias”, diz Marcos Felipe, 39, ator responsável pela produção do grupo.
Perto dali, no terminal Parque Dom Pedro II, na Sé, a Zózima Trupe fixou sua residência artística, apresentando espetáculos dentro de um ônibus. “É uma escolha, e não porque não tínhamos espaços em teatros”, afirma Anderson Maurício, 39, diretor e cofundador da trupe. Além do Parque Dom Pedro II, eles também apresentam suas montagens partindo de outros terminais e pontos turísticos, como ocorrerá neste dia 11 de novembro, com saídas do Sesc Bom Retiro às 17h e às 18h30. Na próxima segunda (14), o ônibus parte do Sesc Carmo às 11h e às 15h.
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Mestre em artes e integrante da Associação Paulista de Críticos de Arte, Miguel Arcanjo Prado explica que o uso de locais não convencionais não é recente, mas vem se intensificando com a criação de leis de fomento. “Sobreviver só por público (bilheteria) é impossível. Esses editais permitem uma maior experimentação dos artistas, que não têm um compromisso de oferecer o que o público já está acostumado a ver, podendo provocá-lo um pouco mais e surpreendê-lo”, diz.
Instalada desde 2017 em uma casa com um galpão anexo que servia de estacionamento de caminhões, na Vila Ré, na Zona Leste, a sede do Teatro Baile faz as vezes até de dormitório. “Aqui encontramos duas coisas importantes: vida comunitária, para o grupo pernoitar, e o galpão, para as apresentações”, afirma Edu Brisa, 43 anos, diretor e dramaturgo.
A relação das trupes com os espaços que ocupam muitas vezes não permite que as montagens sejam encenadas nos palcos tradicionais. É o caso do 28 Patas Furiosas, que mescla artes visuais e cênicas e desenvolveu a sua trilogia em um bar. “O espaço ditou um pouco o que a gente poderia fazer ali”, diz a atriz Sofia Botelho, 36, cofundadora da trupe. Desde abril o grupo se mudou para um galpão, num formato de um grande corredor, no Bom Retiro, no Centro.
A versatilidade de poder usar como quiser um grande galpão de 400 metros quadrados, que antes era ocupado por uma antiga cristaleria, no Belenzinho, na Zona Leste, levou o Grupo Sobrevento a montar uma plateia para bebês a partir de 6 meses de idade para um espetáculo que eles criaram para crianças. “A gente não se limita pelo espaço”, afirma Sandra Vargas, 55, diretora e atriz do grupo.
Já a Cia. Paideia de Teatro transformou um antigo pátio para coletores de lixo em Santo Amaro, na Zona Sul, em sua sede, com a ajuda de voluntários. “Trabalhamos com teatro para a infância e a juventude, e acabamos recebendo ajuda de parentes dos jovens que eram eletricistas, vidraceiros…”, conta Suzana Azevedo, uma das gestoras. O local tem ainda aulas de música e dança, biblioteca e cinema.
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Publicado em VEJA São Paulo de 16 de novembro de 2022, edição nº 2815