Quem trocou o feriadão de Páscoa com a família pelos palcos do gramado do Jockey Club, sentiu fortes emoções. Entre filas intermináveis para tudo (pegar ingressos, entrar, comer, beber ou passear na roda-gigante) e All Stars pesados de tanta lama, houve: os hits do Pearl Jam, o reencontro do Planet Hemp, a explosão do The Hives, a surpresa do Foals, o vigor do Kaiser Chiefs, o memorável Queens of The Stone Age, a devoção ao Criolo, a loucura do Franz Ferdinand, o emocionante NAS, o gogó poderoso da vocalista do Alabama Shakes e a despedida temporária do Agridoce. Sim, os cerca de 170 mil frequentadores dos três dias do Lollapalooza 2013 passaram por tudo isso.
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A sexta-feira começou complicada. Muitos enfrentaram até três horas de fila para retirar o ingresso e chegaram a perder uma parte dos shows. No primeiro dia, as entradas ainda não tinham sido impressas e a burocracia para comprovar meia-entrada também não facilitou.
Vencida essa parte, tinha chegado a hora de se aventurar pelo lamaçal e poças entre uma estrutura e outra. Não havia quem não desse a vida por uma galocha. E a chuva fina teimava em querer assustar os desbravadores. Mas aí veio o rock ensolarado de Pitty e Martin. O encontro foi um dos últimos antes das férias do projeto Agridoce – emocionante. Um dos pontos altos foi quando Martin descobriu uma tradutora de língua dos sinais no canto do palco – novidade da edição 2013 –, que interpretou todo o repertório com as mãos.
Depois, fomos todos regidos por John Mccrea, do aguardado Cake. Enganou-se quem imaginou que I Will Survive seria o ápice. Ainda vão ficar na memória Satan Is My Motor (com comentários sobre a eleição do papa), Never There, Short Skirt Long Jacket, Opera Singer e a surpresa, um término empolgante com a rápida The Distance. Ao fim do primeiro dia ainda nos rendemos ao The Killers. Como não se animar com uma banda que enfileira um hit melhor do que o outro?
Partirmos, então, para a segunda parte da jornada. A organização reforçou as bilheterias e o policiamento – agradecemos. Também agradecemos pelo sol que veio forte – é claro que em pouco tempo as sombras e áreas de descanso ficaram disputadas.
De cara, o cantor e produtor americano Toro y Moi se redimiu após o tropeço no Planeta Terra em 2010. Em seguida, o vozeirão da carismática Brittany Howard, do Alabama Shakes, entrou para a lista de boas surpresas do festival. Na hora dos escoceses do Franz Ferdinand, o público pulou, gritou, enlouqueceu. Ainda assim, ficou aquele gosto de quero mais.
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E o arrebatador Queens of the Stone Age. Seus hits sombrios fizeram contraste à alegria do vocalista Josh Homme, candidato a Mr. Simpatia do evento. Não decepcionou quem esperava ouvir algumas das músicas mais conhecidas da banda americana, como The Lost Art of Keeping a Secret e No One Knows, que abriram o repertório. A única surpresa foi a nova My God is the Sun, que entrará no disco …Like Clockwork.
Mas o segundo dia não foi só de alegrias. Problemas de som prejudicaram algumas apresentações, especialmente nos palcos Alternativo e Cidade Jardim. Criolo teve sorte: sua voz ecoou por todos os cantos e ele saiu ovacionado, apesar de não ter trazido novidades. Já Dan Auerbach e Patrick Carney, do The Black Keys, suaram e se esforçaram, mas a acústica abafada não ajudou. Verdade seja dita: as faixas longas e morosas também apressou a debandada mais cedo para casa.
Sobrevivemos. Terceiro dia. Lotado. Mais fila e muitos fãs do Pearl Jam. Quem chegou cedo assistiu a um dos shows mais fortes da edição, o do Foals. Na sequência, vieram Kaiser Chiefs (o mais enérgico de todos) e os suecos do The Hives, que não deixaram a plateia parar um segundo sequer.
A performance do Planet Hemp, por sua vez, foi em clima de “brodagem”. Um encontro despretensioso entre amigos, apesar de uma ou outra provocação. BNegão chegou a gritar um “Fora, Feliciano”, mas não passou muito disso. No fim, todos já começavam a tomar do rumo do Cidade Jardim, à espera do Pearl Jam.
Sem transmissão pela TV (uma exigência da banda), o último show seguiu o padrão que os fãs do grupo conhecem bem, com imagens em preto-e-branco projetadas nos telões e um repertório generoso tanto em hits quanto naquelas faixas que só o público mais dedicado conhece.
O vocalista Eddie Vedder, esbanjando carisma (como sempre), tocou as primeiras notas de Elderly Woman Behind The Counter In A Small Town já ganhando a partida no primeiro minuto. A primeira parte do show foi pesada, agradou aos machões que eram grande parte da plateia. Estavam lá Even Flow, Jeremy, Daughter, Do The Evolution, entre outras. A segunda marcou o retorno do romance. Casais se abraçaram e pais e filhos juntos se emocionaram com Given to Fly, Not for You, Better Man e Black.
Nos intervalos, Vedder lia textos em português. “Feliz Páscoa”, disse, e, depois, fez um discurso a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo. O presente do “coelhinho” Vedder não poderia ter sido melhor.
Guarde as datas do ano que vem: 18, 19 e 20 de abril.
PONTOS ALTOS:
– A escalação das bandas. Permitiu que o público se dividisse quase o tempo todo, sem tanta muvuca em um único palco
– A aposta em nomes novos como Gary Clark Jr. e Alabama Shakes. Ambos saíram consagrados do festival
– A pontualidade dos shows
– O ambiente família. Crianças circularam pelo festival tranquilamente e devidamente identificadas
– A diminuição da capacidade máxima. Com 60 mil pessoas, o Jockey fica cheio, mas não insuportavelmente abarrotado
– O aumento das áreas de sombra e descanso
PONTOS BAIXOS:
– As filas. Só ficou na promessa melhorar na edição 2013. Havia fila para tudo: banheiros, comprar fichas e até para conseguir pulseiras de identificação
– A lentidão na bilheteria. Muitos perderam shows pois os ingressos não estavam impressos no primeiro dia
– A lama. Ninguém ficou imune e foi complicado atravessar o gramado de um lado a outro
– O som abafado e o vazamento de som de um palco para o outro. Algumas apresentações no Alternativo e no Cidade Jardim foram prejudicadas
– A água acumulada nos banheiros. Nos femininos, as garotas se equilibravam em ripas em meio às poças
– As pillas, a moeda do festival, precisam valer para todos os dias. A organização só liberou no último dia. Quem tinha pillas que sobraram do primeiro dia, não pôde utilizá-las no segundo
– O número de banheiros. Insuficientes, principalmente na área mais central do Jockey
– Os ônibus na saída do festival. Eram poucos e demoravam para partir