Emanoel Araújo tinha várias facetas. Artista, curador, museólogo, ativista e colecionador, ele teve um papel importante no reconhecimento da presença negra na arte brasileira. Um ano após sua morte, aos 81 anos, em 7 de setembro de 2022, é possível ter um panorama de seu universo particular e, em breve, até levar um pedaço para casa.
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Sua coleção, considerada uma das maiores da América Latina, está sendo exposta na Bolsa de Arte (Rua Rio Preto, 63, no Jardim Paulista) e será leiloada no mesmo local do dia 25 a 28 de setembro (nota da redação: o leilão foi adiado indefinidamente devido a uma notificação extrajudicial do Ibram). Atendendo a seu desejo deixado em testamento, a verba será destinada a cinco irmãos e funcionários próximos.
A exposição apresenta cerca de 1 500 peças, uma parte do acervo de quase 5 000 itens. São obras que contemplam 400 anos de história da arte, desde uma pintura do século XVI do italiano Nicolò Frangipane até um quadro do modernista baiano Carlos Bastos.
Há também esculturas, santos, joias, moedas antigas, louças e até móveis que estavam em seu apartamento e ateliê. “A coleção é muito eclética, com um foco na autoria e temática negra”, afirma Jones Bergamin, diretor da Bolsa de Arte, que conheceu Emanoel. As peças foram garimpadas pelo artista ao longo de sessenta anos. “Ele tinha um olhar diferenciado para a arte, de ineditismo”, acrescenta.
Alguns itens terão lance livre, sem um valor mínimo estipulado. Segundo o diretor da casa de leilão, vem sendo estudada a possibilidade da venda de todas as peças em um único lote, para que continuem juntas. “É uma vontade nossa, do inventariante e de pessoas que foram à exposição, como Adriana Varejão”, comenta. Obras de autoria de Emanoel não serão leiloadas e vão para o Museu Afro Brasil.
Nascido em Santo Amaro, no Recôncavo Baiano, Emanoel era de uma família de ourives. Na década de 1960, ingressou no curso de artes visuais da Universidade Federal da Bahia, especializou-se em gravura e começou a realizar exposições. Sua longa carreira nas artes teve como destaque a direção da Pinacoteca de São Paulo, entre 1992 e 2002, e a fundação do Museu Afro Brasil, em 2004.
“Ele era uma personalidade complexa, reservada, que tinha um vínculo forte com a ancestralidade”, diz Jones. Filho de Ogum e Iemanjá, Emanoel abriu os caminhos para artistas negros e indígenas em museus de São Paulo, com um planejamento prático para a expansão e renovação dos acervos.
Publicado em VEJA São Paulo de 15 de setembro de 2023, edição nº 2859