Muito já se falou que o cinema argentino dá um baile no brasileiro. Comparações não faltam. É preciso, porém, levar em conta que apenas a nata da filmografia do país vizinho desembarca em nossas salas. Mas, se tomarmos o exemplo do drama O Último Elvis, veremos como a simplicidade e a falta de pretensão resultam num trabalho singelo e eficiente.
Professor universitário, John McInerny, considerado um dos melhores covers latino-americanos de Elvis, faz sua estreia no cinema na pele do protagonista. Carlos Gutiérrez, de 41 anos, trabalha numa fábrica, está separado da mulher (Griselda Siciliani) e tem um relacionamento de poucas palavras com a filha pequena (Margarita Lopez). Nas horas vagas, ele solta o vozeirão apresentando-se em casamentos, clubes e até asilos. Seu cotidiano e sua figura beiram o patético. Carlos não só se veste como o Rei do Rock — ele tem certeza de que é Elvis. Na pindaíba por causa dos calotes nos shows, ele vai sofrer um revés do destino após sua ex-esposa se acidentar e entrar em coma.
São praticamente três personagens e alguns coadjuvantes tão bons quanto os principais. Em toada melancólica, o registro ameaça trazer à tona um drama psicológico. Contudo, prefere se apegar à comovente reaproximação entre pai e filha. Sem estragar as surpresas, o desfecho se dá em Graceland, a mítica mansão de Elvis, recriada espetacularmente num estúdio de Buenos Aires. Em seu primeiro trabalho na direção, Armando Bo, um dos roteiristas de Biutiful (2010), de Alejandro González Iñárritu, constrói muito bem um personagem desgostoso, por vezes desagradável, e com a missão de reverenciar seu ídolo com uma entrega absoluta.
AVALIAÇÃO: ✪✪✪