Qual é o papel da biblioteca no século XXI? Esse é um dos questionamentos com os quais a Biblioteca de São Paulo (BSP), no Parque da Juventude, em Santana, completa 14 anos. O equipamento estadual celebra o aniversário com uma programação que inclui o espetáculo A Viagem Lúdica, da Cia. Malas Portam (28/2, das 14h às 15h) e uma roda de conversa com o escritor Mário Prata (23/3, das 15h às 17h). Para responder à pergunta, a gestão aposta em um de seus pilares: a escuta ativa e o acolhimento ao público.
Um dos fatores determinantes para a definição de seu perfil surge antes de seu nascimento. A instituição ocupa o espaço da antiga penitenciária do Carandiru, que marcou a história da cidade. Com a implosão dos prédios, nos anos 2000, muito se discutiu sobre qual seria a finalidade do uso do terreno. Quando surgiu a ideia da biblioteca, a intenção era transformar o local com uma história trágica, símbolo de reclusão, em um lugar de liberdade, inclusão, conhecimento e cultura.
“O centro da BSP são as pessoas e as comunidades que a cercam”, afirma Pierre André Ruprecht, diretor-executivo da SP Leituras, responsável pela gestão. Com projeto do escritório aflalo/gasperini, ela abriu as portas em 8 de fevereiro de 2010 com a missão de ser um modelo para bibliotecas públicas. Localizada ao lado da Etec Parque da Juventude e próxima a faculdades e edifícios corporativos, a biblioteca recebe um público variado, que vai de jovens gamers e adultos em trabalho remoto até idosos que buscam letramento digital. Há também um público importante de pessoas em situação de rua, advindas de albergues da região. “A lógica da biblioteca é de construção de comunidades, vamos mapeando interesses comuns e propondo atividades”, explica Ruprecht.
Os números ainda se recuperam da pandemia. No ano passado, a BSP recebeu 284 000 visitantes, montante que chegou a 314 000 em 2019. Mas, com um bom início em 2024, vê motivos para comemorar. A frequência média atual é de 24 000 pessoas por mês — a da Biblioteca Mário de Andrade, por exemplo, é de quase 20 000. Há uma preocupação da gestão estadual em atrair público. A secretária Marília Marton afirma que se reúne pelo menos uma vez por semana com a SP Leituras para pensar em propostas. “A pasta está muito antenada e tem dado à biblioteca um protagonismo inédito”, diz. Para isso, o espaço aposta em uma programação cultural diversa, com atividades culturais e sociais, e na aquisição de obras. O acervo recebe compras semanalmente, incorporando temas de oficinas e pedidos de frequentadores.
“O acervo se constrói em torno da vida da biblioteca”, diz Ruprecht. No ano passado, foram adquiridos cerca de 3 500 livros, somando aquisições e doações. Hoje, a BSP possui mais de 47 000 títulos, com atenção para literatura e ciências humanas. “Temos um dos melhores acervos de literatura brasileira contemporânea”, ele acrescenta. Um foco deste ano é desenvolver o projeto de curadoria colaborativa, com participação do público.
Publicado em VEJA São Paulo de 16 de fevereiro de 2024, edição nº 2880