O paulistano Antonio Bivar ganhou projeção no fim da década de 60 em uma leva de dramaturgos formada por ele, José Vicente, Leilah Assumpção, Isabel Câmara e Consuelo de Castro. Suas peças Cordélia Brasil, Alzira Power e Abre a Janela e Deixa Entrar o Ar Puro e o Sol da Manhã contrariavam a maré política ao abordar opressão feminina e comportamento. Aos 80 anos, o autor, porém, prefere se dedicar ao sossego. “O convívio com atores e diretores é muito chato, uma gente complicada”, afirma ele, que escreveu treze peças, três delas inéditas. “Fui uma moda no teatro que passou, então, fico no meu canto e faço o que bem entendo.”
Com lançamento na terça (10), às 19 horas, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, a autobiografia Perseverança (Humana Letra; 52 reais) conta sua trajetória, principalmente nos anos 1980 e 1990, quando, depois de consagrado, Bivar se reinventou em trilhas diversas. O autor viveu o auge da contracultura em Londres, em meio a viagens lisérgicas e à descoberta de tendências, como o movimento punk, e conserva o espírito anárquico do passado. Foi ele, aliás, quem organizou no Sesc Pompeia o lendário festival O Começo do Fim do Mundo, que, em 1982, alavancou a cultura punk no Brasil. Como diretor, criou os shows Drama, Luz da Noite (1973), de Maria Bethânia, e Tutti- Frutti (1975), de Rita Lee. “Rita é a melhor atriz com quem trabalhei, é genial ao vestir personagens”, elogia.
Graças à amiga roqueira, Bivar garantiu um teto para morar. A cantora não se conformava em vê-lo, quase cinquentão, pagando aluguel ou pingando na casa dos outros. Os dois se reencontraram para montar o show dela no Rock in Rio, em 1985, e emendaram os programas Radio Amador, veiculado pela 89 FM em 1986, e TVLeeZão, da MTV, em 1991. De posse dos cachês, Bivar foi praticamente obrigado por Rita a comprar um quarto e sala em Santa Cecília, onde ficou até 2008. Hoje, mora em um apartamento maior, de 75 metros quadrados, no Morumbi.
O sustento vem da aposentadoria de um salário mínimo e meio, além de pagamentos recebidos por cursos e textos cada vez mais raros publicados na imprensa. A eterna alma hippie, no entanto, lhe garante paz e tranquilidade. “Não reclamo de nada porque sou feliz e jamais precisei de muito dinheiro”, afirma ele, que nunca se casou e imagina não ter filhos. “Faz parte dessa perseverança me manter firme e enxergar a vida como uma grande ironia.”
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 11 de setembro de 2019, edição nº 2651.