Em janeiro de 2007, dois meses antes de estrelar My Fair Lady, a atriz e cantora Amanda Acosta entrou no camarim de Bibi Ferreira, que se apresentava no Teatro Renaissance. Emocionada, quase às lágrimas, a jovem balbuciou algumas palavras na tentativa de traduzir o respeito pela artista, que havia protagonizado o mesmo musical em 1962. A diva, experiente no trato com fãs, pegou as mãos da discípula e as apertou. “Isso é trabalho, muito trabalho, minha filha”, declarou, antes de receber o próximo admirador.
O encontro de poucos minutos, talvez até segundos, nunca saiu da cabeça da paulistana Amanda Netto Acosta, de 39 anos, que carrega no currículo 25 peças, duas novelas e quatro filmes, além de ter sido vocalista, entre 1988 e 1993, do conjunto Trem da Alegria. A partir de sexta (4), a intérprete traz ao Teatro Bradesco aquele que considera seu maior desafio, Bibi, uma Vida em Musical.
O espetáculo ficou em cartaz no Rio de Janeiro por três meses e recebeu a bênção da homenageada. Amanda representa a carioca Abigail Izquierdo Ferreira dos 19 aos atuais 95 anos. “É o resultado de muito, muito estudo”, justifica, com a mesma modéstia da estrela. “Corri atrás de todo tipo de material para captar a voz, o modo de falar e os trejeitos de Bibi, já que não uso maquiagem pesada para caracterizá-la.”
Seu nome foi definido sem testes nem audições. Amanda apenas enviou aos produtores uma gravação da canção L’Accordéoniste, sucesso de Edith Piaf, uma das personagens célebres do repertório de Bibi. Queriam ouvi-la em francês. “Se fosse preciso, aprenderia a cantar em japonês”, brinca, com um pé na obstinação.
O diretor Tadeu Aguiar, que trabalhara com Amanda em outras quatro montagens, jamais duvidou da aposta, mas, na reta final dos ensaios, a percebeu insegura com a responsabilidade. “Houve um momento de tensão entre nós, fui rude a ponto de ela sair da sala chorando”, conta. “Eu corri atrás e falei: ‘Não sacralize a Bibi! Faça!’. E Amanda, brava comigo, tomou um copo de água, levantou os ombros, encurtou o pescoço e repetiu a cena. Ali, eu e o elenco nos vimos diante da Bibi que sempre imaginamos.”
A profissional não tem tempo para chiliques nem para sofrer com críticas. A artista mirim nasceu aos 6 anos, no grupo Amanda e as Netinhas, ao lado de duas irmãs e duas primas. Criada no bairro de Itaquera, ela cresceu brincando com os vizinhos pelas ruas, caminhava até a escola e, mesmo depois do sucesso do Trem da Alegria, garante que nunca se distanciou da imagem de criança comum. Por cinco anos, a garota viajou com o conjunto para boa parte do país e frequentou programas de televisão.
“Não guardo trauma algum em relação à minha infância, pois sempre estive onde quis estar”, afirma ela, filha de um comerciante e de uma dona de casa. “Como trabalhou arduamente desde que se conhece por gente, Amanda criou a consciência de que a carreira de atriz é um sacerdócio, algo que Bibi e Marília Pêra sempre entenderam porque também nasceram no palco e fizeram de tudo”, elogia o diretor Jorge Takla, que a comandou em My Fair Lady.
Dentro da própria casa, Amanda, agora no papel de mãe de Vicente, percebe uma forte vocação no filho que teve com o ator e médico André Fusko, seu parceiro há catorze anos. O menino, de 9 anos, toca bateria há pelo menos cinco, participa de shows de amigos no bairro da Pompeia, onde moram, e, vez por outra, avisa, categórico, que será arquiteto.
“Eu estimulo o Vicente com tudo o que é legal, seja música, artes plásticas ou esportes”, diz ela. “Se daqui a pouco meu filho se interessar por robótica, vou querer desvendar esse universo junto com ele.”