Por quase dois anos, uma equipe de dezoito pessoas, a maior parte delas engenheiros, trabalhou para tirar do papel um dos mais espaçosos submarinos de uso privado já produzidos. Com capacidade para cinco viajantes, a primeira unidade do C-Explorer 5, anunciado em 2010 pela empresa holandesa U-Boat Worx, foi entregue em setembro do ano passado. Desde então, mais duas foram vendidas, com cifras a partir de 1,9 milhão de euros. Os preços variam de acordo com os requintes de cada encomenda, entre os quais a que profundida dese deseja submergir — o máximo é 300 metros (quase 100 além do recorde mundial de mergulho livre, de 214 metros). Pressurizada e inteira deacrílico, a cabinedo C-Explorer 5 permite vista privilegiada para os corais, a fauna marinha e outras maravilhas do oceano inacessíveis para quem boia na superfície. É o trunfo dessa nova categoria de brinquedos, favorita de quem já adquiriu barco, helicóptero, moto, sem contar o básico supercarro. É o caso do multimilionário inglês Richard Branson, fundador da gravadora Virgin, que encomendou em 2010 um modelo de três lugares à empresa americana Hawkes Ocean Technologies.
“Quem compra um submarino tem espírito explorador, busca sempre mais”, diz Erik Hasselman, gerente de marketing e vendas da U-Boat Worx. Ele estima que existam apenas dez modelos particulares circulando algumaspoucas léguas pelos oceanos (movidos a bateria, muitos deles têm fôlego para cerca de vinte horas de passeio). Essa é uma indústria ainda nas braçadas iniciais, daí a dificuldad eem determinar quantos exemplares pertecemao mesmo proprietário. Não estão computados aqui os que vêm de “brinde” em iates transatlânticos. O Octopus, do americano Paul Allen, sócio da Microsoft, carrega dois submarinos com oito lugares. O Eclipse, o maior iate do mundo, do russo Roman Abramovich, dono do clube de futebol inglês Chelsea, conta com um modelo para duas pessoas.
Só nos últimos trinta anos o submarino deixou de ter uso restrito a militares, sua vocação desde meados do século XVII. A partir da década de 1980, depois que a Guarda Costeira dos Estados Unidos estabeleceu regras de segurança, ele ganhou versões turísticas e particulares. Um dos pioneiros na onda privê foi o americano Bruce Jones, dono da U.S. Submarines, fundada em 1993. Ele trabalhou num submarino turístico e aproveitava as horas de folga para jantar a sós com a mulher no fundo do mar. “A experiência era tão boa que resolvi fabricar embarcações para poucos”, conta. A companhia tem projetos de até três lugares — e Jones não revela sua produção. Na linha do peixão Nautilus, capitaneado por Nemo no livro 20 000 Léguas Submarinas, de Júlio Verne, o estaleiro americano Innespace Productions vende submarinos em forma de golfinhos e baleias — no tamanho natural. Mais: eles têm navegação acrobática e reproduzem o movimento desses animais. Outros desenhos grandiosos querem conquistar os mares. A U.S. Submarines espera compradores para o Phoenix 1000, com 460 metros quadrados distribuídos em quatro andares, 65 metros de comprimento, espaço para um “filhote” e preço de 70 milhões de dólares, e para o Seattle 1000, que mede 36 metros. Ambos podem ter o interior personalizado, com espaços de lazer que os fazem parecer iates. “Ainda nos falta explorar 99% do mar, mas será natural, nos próximos anos, escolher o fundo do oceano para passar férias”, exagera Jones.