Abalado pela proliferação das empresas de móveis planejados, o ramo das marcenarias voltou a apresentar sinais de recuperação após a recente abertura de oficinas com caráter bem diferente do padrão tradicional do negócio.
Administrados por jovens recém-formados em cursos de arquitetura como o da FAU-USP, esses espaços apostam em publicidade feita pelas redes sociais e dispõem de catálogos pequenos, com no máximo dez itens. O pioneiro foi a Farpa, na Pompeia, no começo de 2013. Na sequência, no decorrer do ano passado, surgiram SerraCopo Oficina, em Santa Cecília; Gamb, em Pinheiros; e Flecha, na Vila Madalena. As peças, a maioria produzida sob encomenda, custam de 80 reais (tábua de cozinha) a 4 800 reais (mesa).
Saiba mais sobre as oficinas:
Formado em arquitetura nos Estados Unidos, Cassiano Bonjardim retornou a São Paulo em 2011 e decidiu trabalhar com design. O primeiro trabalho se deu em uma reforma no Hostel City Lights, na Vila Madalena, ao lado de outros cinco amigos também da área, Max Motta, Ricardo Alves, Lucas Gras, Pedro Figueira e Rodrigo Rocha. O resultado apareceu no mobiliário da recepção e dos beliches dos quartos novos. O trabalho é feito com madeira demolição.
Desde o ano passado, a turma tem desenvolvido projetos maiores, como casas de praia. “Também estão no nosso radar mobiliários para cozinha e banheiro”, diz Bonjardim. Por enquanto, eles atendem apenas por encomenda, porém, já existem produtos a pronto entrega, como shape de skate, luminárias, mesas e poltronas.
> Flecha Estúdio: mail@estudioflecha.com
A oficina tocada pelos arquitetos André Carvalho, Victor Campos e Juliano Costa funciona desde 2013 em um galpão próximo à Avenida Pompeia. Já com experiência em trabalho de marcenaria na faculdade (os três são da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP), não foi difícil entrar para a área. “A vantagem é que desenhamos e em pouco tempo temos o resultado nas mãos”, afirma Campos. O primeiro trabalho da Farpa foram os móveis do escritório do tio de Juliano. A partir do projeto, partiram para a marcenaria em si.
Hoje, são mais de dez peças que podem ser personalizadas pelo cliente. Tendo como principal meio de comunicação as redes sociais e o boca a boca, chegam ali pedidos de jovens que estão indo morar sozinhos ou casais que acabaram de ir morar juntos. “Temos até um design que agrada mais esse público”, diz Carvalho. Os três são os responsáveis por todas as etapas do processo, do atendimento até a instalação do mobiliário. “Sem intermediários, a gente consegue desenvolver melhor o que é pedido e ainda dá o suporte para o cliente, o que pode não acontecer com empresas grandes.”
> Farpa: contatofarpa@gmail.com
Plinio Calil e Filipe Vaz eram amigos de infância, mas se distanciaram com o tempo. Vaz seguiu carreira na engenharia ambiental, com projetos feitos no Haiti, enquanto Calil trabalhava em uma empresa de design. Ao se reencontrarem, começaram a discutir assuntos em comum, como a insatisfação com o trabalho. Criaram o Ateliê em Rede, na Rua Fradique Coutinho, espaço compartilhado que se dividia em estúdios de bordado e costura e uma marcenaria. Dali, surgiu a idea do Gamb. Com peças produzidas em madeira de reaproveitamento e ainda sem uma linha fixa de produtos, a dupla se divide em fazer mobiliários, desde uma tábua de madeira até mesas e estantes, e peças para áreas verdes da cidade.
A primeira obra realizada pelo Gamb foi no Parque das Corujas, no Sumarezinho, com cercados de madeiras. “Temos o cuidado para que nosso produto seja ecofriendly, para que tudo seja certificado”, diz Vaz. Também adeptos à propaganda boca a boca, os dois recebem principalmente clientes entre 20 e 40 anos. “O grau de confiança é tanta que chegam a deixar o projeto inteiro na nossa mão”, garante. Os amigos aproveitam o trabalho para transmitir sua experiência com workshops para pessoas que não possuem nenhum conhecimento sobre o assunto. “É dar o empoderamento para o cliente. Se ele quiser montar seu próprio móvel, a gente ajuda”, explica Vaz. As próximas aulas estão marcadas para as sextas-feiras de agosto, na Vila Itororó.
> Workshops na Vila Itororó: todas as sextas-feiras de agosto, das 9h às 13h. Inscrições pelo email oficinas@vilaitororó.com.br. No assunto, escrever: “Inscrição Oficina Marcenaria de Reuso de Materiais”. O e-mail deve conter um minicurrículo e um pequeno texto sobre a intenção em aprender. Mais informações pela página do Facebook.
Formado em arquitetura pela Escola da Cidade em 2013, Henrique Aires ficou desiludido com a área. “Já gostava de fazer peças pequenas com madeira, do naipe de luminárias e encadernações”, conta. Naquela época, seu pai decidiu redecorar o escritório onde trabalhava e Henrique pediu para produzir o mobiliário. “Hoje, olho e vejo que já está ultrapassado”, diverte-se. Entre os itens, existem escrivaninhas, criados-mudos, armários e aparadores de sala integrantes de sua linha, que em breve será exposta em um espaço próximo ao endereço da oficina compartilhada, em Santa Cecília. “Ainda assim, a maioria das encomendas que chega é para personalização”, conta. O prazo de entrega é a partir de um mês, já que ele não consegue assumir muitos trabalhos ao mesmo tempo. “A minha maior preocupação está em fazer um produto acessível e de qualidade.”
> SerraCopo Oficina: tel. 3661-7608 ou serracopooficina@gmail.com