Aprender a cozinhar virou quase necessidade básica durante a quarentena. E não falta conteúdo audiovisual para quem quer seguir o passo a passo de uma receita. Muitos dos vídeos de sucesso são produzidos por chefs renomados, culinaristas e ex-participantes de reality shows na internet. Durante a pandemia, surgiu um novo fenômeno.
Começou a ganhar força nas redes sociais um grupo de jovens de não mais de 30 anos que conquistou público não só pela comida mas também pela espontaneidade. São quase versões atualizadas no Instagram, no TikTok e no YouTube de Palmirinha Onofre, a famosa e adorada vovó cozinheira da TV aberta.
Emboraaté tenham jeito de especialistas no assunto, poucosvieram do ramo gastronômico. “Ensinamos coisas que as pessoas não conseguem pedir no delivery”, acredita Allison Seidi, do GoHanGo, um dos canais dessa nova geração.
Com o pé na Ásia
É exponencial o crescimento do GoHanGo. O canal do YouTube, que ensina sobretudo receitas asiáticas (mas não só), foi de 2 000 inscritos no começo da quarentena para 376 000 no início deste mês. Criado em 2019 pelos amigos Allison Seidi e Hideki Uehara, apelidado de Dekidin, ambos de 25 anos, o canal, que no princípio tinha até avaliações de estabelecimentos, virou sucesso com vídeos de receitas como o harusame (macarrão de feijão-verde) e o gohan, o arroz sem tempero. Ajudou a bombar o ingresso no TikTok (1,1 milhão de seguidores), no Instagram (107 000 seguidores) e a adesão à ferramenta shorts no YouTube, de vídeos curtinhos. Com o crescimento, a dupla de influenciadores virou quarteto ao incorpar Cintia Zhu e João Yamashita. Curiosamente, só Dekidin trabalha em cozinha. Allison e João são universitários e Cintia, contadora.
> Ratatouille. A receita com mais buscas do GoHanGo, curiosamente, é um prato francês. São 3,5 milhões de visualizações no TikTok.
> Onde encontrar: YouTube (GoHanGo), TikTok (@gohanplz) e Instagram (@gohangosocial).
O básico do básico
Feijão sem panela de pressão, molho à bolonhesa, arroz branco… Foram pratos do cotidiano que fizeram o Instagram de Marina Monaco, 30 anos, crescer. Durante a quarentena, ela se viu desempregada — cuidava das mídias sociais de um restaurante. Resolveu usar o tempo livre — e os conhecimentos adquiridos nos cursos de audiovisual no Senac e gastronomia na Anhembi Morumbi — para explicar o bê-a-bá da cozinha em stories aos amigos. “As pessoas até sabem fazer receitas mais refinadas, para receber convidados, mas não cozinham comida do dia a dia”, observa. Os compartilhamentos aumentaram e os seguidores subiram para 33 000. Com o sucesso, ela passou a ensinar sugestões, digamos, mais elaboradas, como os dadinhos de tapioca e o arroz de polvo.
> Dadinho de tapioca. Criado por Rodrigo Oliveira, do restaurante Mocotó, o quitute com queijo de coalho é a receita mais acessada da conta de Marina — são 24 200 visitas.
> Onde encontrar: Instagram (@marinamonaco)
Junk food sem bicho
Adepta do veganismo desde os 18 anos, Luísa Motta, de 22, criou o canal de YouTube Larica Vegana em 2018, no qual mostra como fazer pedidas como bolinho de queijo, rissoles e estrogonofe (adaptados, claro). Durante a pandemia, engordou o número de espectadores interessados nessas receitas sem ingredientes de origem animal — atualmente, 383 000 inscritos, só no canal — e se multiplicou também no Instagram, onde acumula 162 000 seguidores. “Sentia muita falta de canais que falassem sobre culinária vegana e que não ficassem apenas em receitas saudáveis, com pratos inacessíveis, ligadas ao emagrecimento”, explica. Junto do irmão Tito Motta grava vídeos de junk food e mostra um pouco sobre como é seu estilo de vida. “A maior parte do meu público é de não vegano, mas gosta de acompanhar”, jura Luísa.
> Frango frito. Na cozinha de casa, Luísa recria o petisco sem ave alguma, mas com couve-flor, farinha de arroz e tofu. O vídeo bateu 848 000 visualizações.
> Onde encontrar: YouTube (Larica Vegana) e Instagram (@luisa_motta)
Sobremesas de estilo
Foi preparando estilosas sobremesas no Instagram que a designer Beatriz Frering se distraiu na primeira fase da quarentena. Estudante de design industrial no Wentworth Institute of Technology, em Boston, nos Estados Unidos, ela começou a compartilhar vídeos no IGTV, em junho passado, quando passava uma temporada na fazenda da família, em Pindamonhangaba (SP). Lá, colheu as flores para adornar sua receita de maior sucesso, o bolo da Bê, que virou até estampa de pijama para uma marca em uma ação paga. A estudante mostra ainda como fazer flores cristalizadas e docinhos de cereja de visual atraente — os seguidores, que não chegavam a 3 000, ultrapassaram 14 000. Olha que Beatriz não faz coisas rápidas nem práticas. Ela monta tudo com calma, destacando cada etapa do processo, “Quero ensinar as pessoas a compartilhar o mesmo tipo de afeto e emoção de quando eu faço as receitas”, diz.
> Bolo de flores da Bê. A massa de cenoura tem a cobertura de cream cheese com flores secas e prensadas, técnica ensinada pela designer. O vídeo foi acessado mais de 15 000 vezes.
> Onde encontrar: Instagram (@beatrizfrering)
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Publicado em VEJA São Paulo de 14 de abril de 2021, edição nº 2733