No segundo dia da Mostra Internacional, tinha me programado para ver Perder a Razão (foto acima). O filme não chegou e foi trocado por outro. Seis dias depois, já havia escutado vários comentários elogiosos. Pois bem. Vi o filme e levei um soco no estômago. Não há cenas de violência nem sanguinolentas. Mas o tema, o roteiro e a direção conspiram para deixar o espectador desconfortável com o que está ocorrendo na tela.
A trama é a seguinte: o jovem marroquino Mounir vive com André, um médico maduro, mas não há nada que aponte para uma relação homossexual. Quando o rapaz árabe se casa com a professora belga Murielle (eles vivem em Bruxelas), sabe-se algo mais. O doutor “adotou” o moço e casou com a irmã dele apenas para deixá-la legal na Europa.
O tempo passa. Mounir e Murielle parecem felizes com a chegada dos filhos e vivendo sempre sob o mesmo teto de André. Até que a estabilidade degringola e a história vai ficando cada vez mais tensa, pesada… Já havia visto outros dois filmes do diretor belga Joachim Lafosse: Propriedade Privada (2006), lançado no Brasil, e Élève Libre (2008), só exibido na Mostra. Perder a Razão é o melhor.
Durante a sessão, pode parecer sufocante e muito baixo-astral. Depois de um café, há muito o que se discutir, sobretudo a opressão feminina diante de dois homens – um europeu dono de si e um árabe/muçulmano seguindo uma linha de pensamento do passado. Ambos negligenciam o que se passa com a mulher à volta deles. Torça para o filme ter mais exibições, já que eu vi a última. O filme é o candidato da Bélgica a uma vaga no Oscar de melhor filme estrangeiro. Na minha opinião, não tem muitas chances.
Outra boa pedida, mas aí num registro mais leve e cômico é Pequenas Mentiras (acima). Tem mais uma exibição no Eldorado, na quarta (31), às 19h, desta simpática fita israelense. Trata-se do reencontro com de uma menina de 12 anos com seu pai, em Israel. Ela vai viver com ele após a mãe “despachá-la” da Califórnia. O problema é que o pai, embora gente boa, não tem nem casa para morar. Ele vive de brisa, de empréstimos e de inventar coisas até curiosas, mas que nunca passam do protótipo. Exemplo: uma maquininha que aspira a fumaça do cigarro. Em uma hora e meia, dei algumas risadas e achei o filme bem-feitinho. Só impliquei um pouco com a falta de raízes da trama, que poderia se passar em qualquer lugar do mundo. Até já “vi” uma refilmagem nos Estados Unidos com Jeff Bridges e Miley Cyrus. Ia dar bilheteria.