Há movimentos de religiosos na internet para que a Netflix retire da plataforma o Especial de Natal Porta dos Fundos chamado A Primeira Tentação de Cristo. Será uma briga em vão. E, cá entre nós, vazia, sobretudo porque tem cheiro de censura. Eu sempre sou da opinião que cada um faz o que quer e que cada um vê o que quer. Se te causa revolta ver Jesus descobrindo a homossexualidade ou Deus como um sujeito safado, basta procurar outra coisa para assistir na Netflix – e conteúdo é o que não falta.
O Porta dos Fundos criou um canal (muito bem-sucedido) no YouTube disposto a zoar – com tudo e com todos. No ano passado, foi lançado pela Netflix o primeiro especial de Natal, Se Beber, Não Ceie. Não ouvi uma mosquinha reclamar de nada: Jesus desaparece após a última ceia e os apóstolos não sabem o que se passou na noite anterior. Uma história, claro, totalmente inspirada em Se Beber, Não Case, com direito a Jesus caindo de bêbado e sendo corrupto e Maria Madalena se exibindo como prostituta.
Neste ano, o Porta pegou mais pesado e, embora o roteiro de A Primeira Tentação de Cristo não seja tão afiado quanto o anterior, achei mais divertido. Há, sim, muitos palavrões e provocações, uma marca já registrada do Porta. E há também uma originalidade ímpar na “tradução” da história bíblica. Na trama, os três reis magos (um deles é um pegador, interpretado por ninguém menos do que João Vicente de Castro), José e Maria , parentes e amigos preparam uma festa surpresa para os 30 anos de Jesus (Gregório Duviviver).
Ele, então, aparece com um “amigo”, com quem passou os 40 dias no deserto: Orlando (Fábio Porchat, hilário) já chega chegando, abafando, abalando as estruturas e deixando, nas entrelinhas, que houve “algo mais” entre eles. Jesus, portanto, teve sua primeira experiência sexual com um homem.
Deus (Antonio Tabet), por outro lado, é mulherengo, quer transar novamente com Maria (agora para ter uma menina!) e é um todo-poderoso torto. Não vou mais além, mas há muitas piadas recheadas de deboche e desbunde.
Muitos estão criticando (talvez sem ter visto o especial, que dura apenas 45 minutos) o fato de haver na trama um Jesus gay (ou que teve uma transa gay) e um Deus sem-vergonha. Quem for até o fim, verá que a história termina de uma forma até emocionante. Quase nada é o que parece ser. Então, não atire a primeira pedra antes de ver.
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