A entrega do Emmy, o Oscar da TV, está chegando. Será dia 20 de setembro e, por causa da pandemia do novo coronavírus, a cerimônia será virtual. Há muitas séries na competição e não vi muitas delas, como The Good Place, Ozark, Succession e Better Caul Saul. Fiquei restrito, portanto, a comentar neste post as minisséries e os filmes que receberam indicações. Também não vi alguns títulos, como Mrs. America, que não chegou ao Brasil, e Má Educação e Watchmen, produções da HBO.
Confira abaixo alguns títulos analisados e/ou comentados. Mas será que valem a pena?
I Know this Much Is True > Com apenas a solitária indicação de Mark Ruffalo como ator de minissérie ou filme para a TV, I Know this Much Is True merecia mais. Prepare-se para um dramão (e não dramalhão) pontuado por sofrimentos. Em 1990, Dominick promete, no leito de morte da mãe, cuidar de seu irmão, o gêmeo Thomas, que tem esquizofrenia paranoide. Num impulso incontrolável e movido por palavras da Bíblia, Thomas corta a própria mão dentro de uma biblioteca pública e, por isso, é levado para uma penitenciária de segurança máxima. Dominick sabe que ele não oferece perigo à sociedade e moverá montanhas para tirá-lo de lá. Enquanto isso, a história traz momentos da infância, adolescência e juventude deles, que nunca souberam a identidade do pai e foram criados por um padrasto severo e que impunha corretivos para o instável Thomas. Além do trabalho excepcional do astro (em papel duplo), há coadjuvantes excelentes (como Rosie O’Donnell), um roteiro muito bem destrinchado em seis episódios e em épocas distintas e a direção de pulso firme de Derek Cianfrance (do cult Namorados para Sempre). Baseada no livro Eu Conheço a Verdade, de Wally Lamb, a minissérie pode parecer apenas um acúmulo de tragédias pessoais, mas, nas entrelinhas, aborda a superação/transformação por meio do autoconhecimento. HBO pelo NOW ou HBO GO.
Inacreditável > Está no páreo em quatro categorias do Emmy, incluindo melhor minissérie e melhor atriz coadjuvante de minissérie (Toni Collette). A trama se desenrola em dois anos distintos. Em 2008, Marie Adler (Kaitlyn Dever) repassa sua história para um policial. Ela foi estuprada de madrugada por um homem mascarado que, após longas horas, fugiu sem deixar vestígio. Levada para a delegacia, a moça, de 16 anos, é obrigada a relembrar o mesmo drama para outros homens. Marie é uma garota de passado traumático, foi criada em lares adotivos e os investigadores têm dúvidas do crime, já que não há nem pistas do estuprador. Ela, então, é induzida a confessar que foi uma invenção. No segundo episódio, ambientado em 2011, uma jovem de outro estado se diz vítima de estupro, o que leva uma enérgica investigadora (Merritt Wever) a procurar casos semelhantes. Vai, então, encontrar e formar uma dupla com a detetive Grace Rasmussen (Toni Collette). Inspirado em caso real, o roteiro, dividido em oito capítulos, expõe o machismo estrutural da sociedade americana por meio de uma trama policial bem engendrada. Netflix.
American Son > Concorre ao Emmy de melhor filme para a TV e foi lançado em novembro de 2019. Após a morte do negro George Floyd, três meses atrás, a história parece mais ainda atual e contundente. Numa madrugada chuvosa, dentro de uma delegacia de Miami, Kendra (Kerry Washington) pede, desesperadamente, informações sobre seu filho, de 18 anos, que não voltou para casa. O policial, pacientemente, explica quais são os protocolos a ser seguidos, como esperar 48 horas para dar início às buscas. A mãe vira uma fera e pressente uma negligência racista por parte do policial branco (Jeremy Jordan). A situação vai ficar ainda mais inflamada com a chegada ao local do pai do rapaz, um agente do FBI (Steven Pasquale). Num ambiente tenso e com diálogos que exemplificam como os negros são tratados pela polícia, o roteiro aponta para uma discussão bilateral. Com os nervos à flor da pele, o casal inter-racial encara uma longa jornada noite adentro com consequências devastadoras. Netflix.
Hollywood > Ryan Murphy é um dos nomes mais badalados da TV americana como criador de Glee, Feud e Pose, entre outros sucessos. Seu novo seriado usa alguns personagens verídicos, mas introduz elementos de fábula e deixa o roteiro com uma pegada de fantasia. É a época do pós-guerra nos Estados Unidos e, entre 1946 e 1947, o jovem Jack Castello (David Corenswet) tenta emplacar como ator. Casado e prestes a ser pai de gêmeos, o rapaz aceita trabalhar como garoto de programa para um fracassado ator (Dylan McDermott) que usa um posto de gasolina como fachada de encontros. É lá também que se inicia a carreira na prostituição de Archie Coleman (Jeremy Pope), um roteirista que, por ser negro e gay, só recebe nãos dos estúdios. Um dos “fregueses” de Coleman será Rock Hudson (Jake Picking), o caipira que chegou a Hollywood para tentar o estrelato e caiu nas garras de Henry Willson (Jim Parsons), um agente artístico imoral que usa o “teste do sofá” para (a)provar seus clientes. Concorre a doze prêmios no Emmy, incluindo melhor ator coadjuvante (Parsons e McDermott), ator (Pope), maquiagem e figurinos. Deveria estar também em melhor minissérie – é a minha preferida! Netflix.
Little Fires Everywhere > Prepare-se para ver um duelo de personagens antagônicas e com caráter de mão dupla. Reese Witherspoon interpreta Elena Richardson, uma jornalista que se dedicou a cuidar do marido, da casa e dos quatro filhos. Sua vida, então, cruza com a da arredia artista plástica Mia Warren (Kerry Washington) quando ela aluga um imóvel seu e fica penalizada com o caso da inquilina que, até então, morava num carro velho com Pearl (Lexi Underwood), a filha de 14 anos. A minissérie em oito episódios traz à tona o racismo estrutural. A maternidade, em quase todas as suas vertentes, ainda tem espaço ao apresentar um conjunto de ligações afetivas, sejam elas por afinidades ou interesses. Está no páreo do Emmy em melhor minissérie, atriz (Kerry), direção, trilha sonora e canção. Amazon Prime Video.
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Nada Ortodoxa e A Vida e a História de Madam C.J. Walker, ambas da Netflix, também competem em melhor minissérie. Gosto das duas porque apresentam histórias de superação e têm fortes protagonistas/presenças femininas, tanto que suas atrizes (Shira Haas, de Nada Ortodoxa, e Octavia Spence, a Madam C.J.) também disputam o troféu de melhor atriz.
Normal People, disponível na Starzplay, que eu adoro e comentei num post à parte (leia aqui), tem quatro indicações, incluindo a de melhor ator, para Paul Mescal.
Vale a pena?
Talvez o peixe fora d’água, dentre os filmes e séries que eu assisti, seja Dolly Parton — Tocando o Coração. É uma série com oito filmes de uma hora cada um, inspirados nas letras da cantora country Dolly Parton. O Emmy, porém, elegeu Velhos Ossos (o último capítulo) para a categoria melhor filme feito para a TV. Old Bones (interpretada por Kathleen Turner), intrépida ermitã do interior, tem o dom da clarividência na década de 40. Considerada uma bruxa e querida pelos moradores, ela vem causando confusão ao impedir que seus vizinhos vendam seus terrenos a uma madeireira. Desembarca por lá, então, a jovem Genevieve (Ginnifer Goodwin), a advogada da empresa, que está muito disposta a fazer um acordo com Bones. Mas não será fácil convencê-la. É preciso relevar os clichês e as coincidências para embarcar no clima de fábula nostálgica. Desponta, então, um drama leve, fofo e despretensioso, mas que não agrega novidades.
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