É fato que a perspectiva americana sobre minimalismo transforma em produto aquilo que nasceu como conceito de estilo de vida menos consumista, o que é uma grande contradição por si só. Ao longo de Minimalismo Já, filme que mostra a jornada de Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus por uma vida minimalista, é notável a falta de sensibilidade com a diferença entre classes sociais, cultura e mesmo sobre gênero. Os Minimalistas, como são conhecidos, já são figurinhas carimbadas pelos interessados no tema, desde que lançaram em 2018 Os Minimalistas, ambos disponíveis na Netflix. Depois do sucesso de 2018, a expectativa de um segundo filme seria de ver profundidade no tema e explorar novas narrativas, mas o que se vê em Minimalismo Já é uma tentativa frustrada e roteirizada de humanizar os protagonistas com frases feitas, dramatizações desnecessárias e falas preconceituosas, mesmo para uma realidade consumista como a americana.
Como alvo das falas estão as pessoas pobres, as mulheres e os idosos, mas claro que quem estaria certo sobre o que é ou não minimalismo seriam dois homens brancos e ricos, julgando toda a cadeia alimentar do topo da sua ignorância social. Com isso, Minimalismo Já requentou a mesma abordagem do primeiro documentário e não apresenta nada de novo, aliás, só deixa claro que os dois minimalistas preferem a estética de um feed organizado à vida real.
Ana Paula Passarelli é criadora do PASSA em casa, onde produz conteúdo para ajudar as pessoas a enxergar o espaço doméstico com novos olhos e perceber que a simplicidade também pode ser chique. Escreveu a coluna A Nova Casa Minimalista na seção A Tal Felicidade e participou do episódio Menos Coisas, Mais Afeto, do podcast Jornada da Calma.
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Publicado em VEJA São Paulo de 03 de fevereiro de 2021, edição nº 2723