São quatro os candidatos ao Oscar 2021 de melhor documentário disponíveis nas plataformas digitais: Crip Camp, Professor Polvo, Agente Duplo e Time. Só faltou o romeno Collective, ainda não lançado no Brasil.
Acho a seleção mais fraca dos últimos anos e, na minha opinião, nenhum dos quatro que eu vi bate, por exemplo, o nosso Babenco – Alguém Tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou, que também estava elegível para a competição.
Se tivesse que premiar um dos quatro, seria Agente Duplo. Ele sai fora caixinha e, por ser chileno, teríamos um vencedor da América do Sul.
Confira abaixo os quatro concorrentes a melhor documentário e também o único candidato ao Oscar de documentário em curta-metragem disponível nas plataformas.
Crip Camp — Revolução pela Inclusão > Embora fundado em 1951, o acampamento de verão Jened, no estado de Nova York, virou, nas décadas de 60 e 70, um importante ponto de encontro de adolescentes e jovens com deficiência, seja física ou mental. Eles eram assessorados por monitores, em geral estudantes, e tinham uma liberdade que não encontravam em casa e muito menos nas ruas, já que eram excluídos da sociedade. Produzido pelo casal Barack e Michelle Obama, o documentário traz entrevistas atuais com parte do grupo e é recheado de imagens de arquivo. O registro se estende além da conta, mas encontra seu prumo no tópico seguinte: mostrar como alguns deles se tornaram ativistas dos direitos humanos e exigiram do governo americano leis de acessibilidade. Em um dos protestos mais significativos, ocuparam, em 1977 e por 25 dias, o Departamento de Saúde de São Francisco para exigir igualdades. Disponível na Netflix.
Vale a pena? O tema é importante, mas o documentário se estende no registro inicial do acampamento. Mas vale, sim!
Professor Polvo > O documentarista sul-africano Craig Foster passava, em 2010, por uma crise existencial e não sabia lidar com a criação do filho adolescente. Retomou, então, o antigo hábito de mergulhar para observar as maravilhas do oceano. Foi aí que ele notou a presença de uma fêmea de polvo. Ao longo de quase um ano, Foster se viu obrigado a visitar, diariamente, sua nova amiga e percebeu que o animal, embora arredio e ligeiro, se afeiçoou a ele. De uma beleza estonteante, o filme narra o início, o meio e o fim dessa mais que improvável “amizade”. Disponível na Netflix.
Vale a pena? É um filme esteticamente deslumbrante e nota-se a dificuldade da realização. Vale, sim!
Agente Duplo > Embora faça um registro muitas vezes artificial, o documentário do Chile extrai verdades com suas câmeras ocultas. Sergio tem 83 anos e acabou de ficar viúvo. Encontra, porém, uma atividade na agência do detetive Romulo. Ele aceita se infiltrar num asilo de idosos para saber se a mãe de uma cliente está sendo bem tratada. O “espião”, então, observa o comportamento dos colegas — da solidão à carência, das festinhas aos velórios — e o espectador se vê frente a frente com uma realidade cruel. Disponível no Globoplay.
Vale a pena? É o documentário mais “diferente” do Oscar e comove pelo tema. Vale a pena!
Time > Foi um dos documentários mais premiados em associações de críticos e dispara como forte candidato ao Oscar. É, porém, um trabalho arrastado e superficial. Embora sua causa seja importante, o registro da diretora Garrett Bradley mostra-se repetitivo. O foco está na luta de Fox Rich em livrar seu marido da cadeia. Rob participou de um roubo a banco em 1999 e foi sentenciado a sessenta anos de prisão. A maioria das imagens usadas (muitas delas com qualidade ruim) é de Fox, que registrou por duas décadas seu cotidiano ao lado dos seis filhos. Disponível no Amazon Prime Video.
Vale a pena? De todos os longas-metragens documentais que eu vi, acho o mais fraco. Mas, como escrevi acima, muitos gostam e tem grande chance de ser premiado no Oscar. Na minha opinião, porém, não vale a pena.
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Documentário em curta-metragem
Uma Canção para Latasha > Dura dezenove minutos e concorre ao Oscar de documentário em curta-metragem. Trata-se aqui das memórias de uma amiga e da prima de Latasha Harlins, uma garota negra de 15 anos assassinada pela dona coreana de um mercadinho de Los Angeles, em 1991. As lembranças são fortes e, sem imagens de Latasha, a diretora Sophia Nahli Allison cria seu registro próprio da menina em sequências poéticas. O tema, mais do que oportuno e atual, seria melhor aproveitado num longa-metragem ou numa minissérie, já que o crime de racismo tomou largas proporções no ano seguinte. Disponível na Netflix.
Vale a pena? Por ser curto e único candidato da categoria disponível nas plataformas digitais, vale a pena.
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