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‘Pode trazer a vaselina’: uma noite na casa de sexo e gogo-boys do Centro

Aberta em dezembro, Hot House ocupa endereço da República com shows de dança, striptease e sexo explícito comandados pelo casal Anderson e Emerson

Por Humberto Abdo
Atualizado em 3 Maio 2022, 21h55 - Publicado em 2 Maio 2022, 02h20
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  • “Agora é só a turma da putaria”, anuncia Anderson Azevedo, que desde dezembro comanda com o marido, Emerson Marcellino, uma casa noturna exclusiva para homens no Centro de São Paulo. Com shows de dança, striptease e sexo, atores pornô e gogo-boys sarados atraem o público masculino na faixa dos 40 anos para a Hot House, novo inferninho de teto baixo e luz vermelha na Rua Nestor Pestana.

    São três da manhã e quase hora da dupla da noite subir ao palco para uma performance de sexo ao vivo. “O show eu vou dar agora em casa”, avisa um dos clientes, se levantando para ir embora. Apesar da expectativa para o grand finale explícito, prometido aos sábados, são as preliminares que esquentam a boate, quando os rapazes dançam, desfilam e tiram a roupa — que pode ser uma fantasia de marinheiro, um uniforme militar ou só a sunguinha branca apertada com o logotipo da balada.

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    Pela cidade existem outras casas parecidas, como a Queen’s e o Bar Fama, com tamanhos diferentes e o mesmo mote. Assim como nessas, na Hot House não é recomendada a entrada de mulheres.

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    “Hora da gorjeta, hora de apagar a luz”, diz Emerson, que conduz as apresentações no microfone com humor e safadeza. “E pode trazer a vaselina!”, brinca. Ao lado dele, o DJ sem camisa cuida da trilha sonora pop e eletrônica entre uma investida e outra de algum frequentador. “Ele é ator e decidi chamá-lo para trabalhar com a gente quando disse que não estava tendo muitos testes”, conta Anderson antes de voltar ao camarim, onde os gogo-boys se trocam e também se estimulam para poder retornar “armados” ao palco.

    Para quem chega cedo, essa é uma das atrações principais, com a brincadeira de ajudar cada modelo a vestir a sunga de novo e ajeitar seu instrumento de trabalho enquanto passa de mesa em mesa. “Pode pegar também, a gente já deixou limpinho antes do show”, estimula o anfitrião. O ar-condicionado não resolve todo o calor e, quando os dançarinos acumulam suor, é hora de entregar a toalha para enxugá-los. Aos poucos, os gogo-boys e garçons não são os únicos só de sunga e cueca. O bartender prefere dispensar até a sunga.

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    Imagem exibe, de baixo, um torso musculoso vestindo uma tanga preta. A foto tem tons amarelados.
    Dança e gogo-boys: noite no Centro. (Rooztography/Flickr/Creative Commons/Reprodução)

    “Um deles se empolga muito e, se deixar, sempre tira a roupa”, diverte-se Anderson sobre o funcionário, que circula saltitante entre as mesas de sunga preta e harness, acessório de couro usado na altura do peito. Os clientes pelados são exceção, mas têm espaço privilegiado na darkroom, a área escura nos fundos da casa. “A maioria vem mesmo para assistir aos boys, mas tem dia que isso aqui pega fogo.”

    Da discreta fachada vermelha próxima à Praça Roosevelt, nem parece que o endereço comporta tanta gente e tanto tesão. Depois de ter derrubado várias paredes e instalar isolamento acústico, Anderson ainda sonha em colocar um chuveiro com iluminação perto dos banheiros e pretende mudar o camarim de lugar.

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    “Diz a proprietária que isso foi um salão de beleza tocado por uma atriz famosa, mas por causa da pandemia nem chegou a abrir”, futrica o sócio, que garante ter pelo menos dois clientes famosos desde a inauguração. “Tem um diretor da Globo e um jogador de futebol assumidamente gay, que se solta e faz a festa quando vem pra cá.”

    Formado em jornalismo, Anderson se mudou de Minas Gerais para São Paulo há 15 anos e começou a trabalhar como promoter de festas. O parceiro, paulistano de nascença, ele conheceu no antigo site de paquera Disponível.com. “Claro que às vezes dá briga trabalhando juntos, mas a gente se entende melhor morando em locais separados e em relacionamento aberto”, esclarece.

    Imagem exibe, de baixo, pernas brancas torneadas e uma cueca preta com faixas brancas. O modelo aparece de costas.
    Gogo-boys: atração principal de casa noturna. (Rooztography/Flickr/Creative Commons/Reprodução)

    Além da nova empreitada, sua primeira casa noturna, Anderson tem retomado o canal Papo Mix, criado quando se mudou para a capital paulista. Hoje ele grava no estúdio acomodado em uma salinha em frente às mesas do bar-balada. “Tive que colocar esse insulfilm aqui no vidro porque às vezes tem alguém lá fora batendo punheta no meio da entrevista”, revela, aos risos.

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    É nesse espaço que ele recebe Toro e Henrique, a dupla prestes a transar em cima do sofá vermelho, levado da darkroom direto para o palco. O assunto principal nessa noite é o desligamento de várias contas pornográficas no Twitter, muito usado por atores pornô como meio de divulgação, entre elas a de Toro, que tinha quase 100 000 seguidores. “E agora tem uma nova teoria”, diz ele, em tom de mistério. “Me disseram que estão derrubando contas com conteúdo adulto para sabotar o Elon Musk (que comprou a rede social por 44 bilhões de dólares).”

    Após entrevistá-los no cubículo, Anderson deixa os dois a sós e sai para preparar o público. “Teremos cinco minutos de show com as luzes acesas e depois fiquem à vontade para interagir.” O casal aparece vestindo apenas jockstraps de couro (as cuecas, normalmente usadas por atletas, que só cobrem a parte da frente). Exibindo um caixote de metal lotado de camisinhas, o garçom saltitante entra como se fosse uma animada assistente de palco com o grande troféu nas mãos. Antes da performance mais esperada, um bolo-surpresa surge em homenagem a Toro, que acabou de completar 33 anos. “DJ, escolhe uma música de parabéns! A gente canta, libera eles para o show e só depois pode comer o bolo.”

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