Embora a pornografia não seja em si algo ruim e prejudicial, a forma como ela acontece pode produzir prejuízos para quem com ela se envolve.
Um homem de quase 50 anos me procurou queixando-se de que gasta demasiado tempo se masturbando e assistindo a filmes pornográficos na internet. Ele sofria com a compulsão por pornografia desde sua adolescência. Foi se acostumando ao longo dos anos a satisfazer-se sozinho muito mais frequentemente do que na companhia de alguém.
Habituou-se ao prazer solitário. Corria para o computador sempre que se frustrava diante de alguma situação malsucedida. A raiva e a ansiedade eram dispersadas na frente do monitor. A pornografia foi tomando uma parte cada vez maior de seu cotidiano.
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Ele se viu cada vez mais distante das pessoas mais importantes de sua vida e, aos poucos, também foi deixando de estabelecer novos vínculos, fossem de amizade ou de amor. A masturbação, temperada com intermináveis cenas de mulheres sendo submetidas a todo tipo de humilhação sexual e – por causa da edição – com atores e atrizes exibindo um desempenho superestimado, fez com que meu paciente fosse se apegando cada vez mais e esta forma de dar resolução à sua energia sexual.
O resultado foi o isolamento social, o sentimento de culpa, lesões no pênis causadas pela masturbação compulsiva, demissão do trabalho em um problema judicial gerado por um mal entendido no condomínio em que mora.
É importante destacar que, embora a pornografia tenha sido a causa imediata dos prejuízos citados, ela não é a causa original. Pelo contrário, a pornografia, ela própria, foi consequência de uma profunda lacuna de afeto na vida desse homem, bem como de uma educação proibitiva que negava e invalidava sua sexualidade. O chato é que a pornografia, mesmo sendo consequência de um problema anterior, passa a ser causa por si só de novos problemas mencionados anteriormente.
É o mesmo que que acontece nos casos do álcool e outras drogas, que começam a ser consumidas em excesso por alguém por não estar bem e depois passam a ser causas de novos problemas. Ou seja, pornografia e drogas, quando começam a ser consumidas como consequências de um problema prévio, passam a ser causadores de novos problemas que tendem a se tornar crônicos e arruinar a vida da pessoa.
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O grande desafio na interrupção do consumo de pornografia é que (novamente assim como no caso das drogas) ela produz um efeito prazeroso imediato ou o alívio de um estado de significativa ansiedade. Quebrar esse padrão não é fácil e exige suporte. Esse suporte pode vir de psicólogos, médicos e familiares.
Meu paciente vem aprendendo novas formas de interagir e está conseguindo aos poucos estabelecer mais vínculos. Está descobrindo aspectos muito prazerosos da interação social e também que as dificuldades e atritos são naturais nos vínculos e, quando bem trabalhados, são facilmente superados e podem até fortalecer aquela relação.
O caminho para descobrir o prazer na companhia de outra pessoa é mais longo do que o caminho do prazer imediato alcançado com a pornografia mas, ao se permitir percorrer esse caminho mais longo, ele se torna cada vez mais prazeroso e surpreendentemente mais rico de possibilidades.