São Paulo poderia ganhar dois novos parques e um corredor cultural, além de milhares de novos locais de moradia, trabalho e comércio em uma área central e aprazível. Eis a proposta do arquiteto Diogo Dias Lemos, formado pela FAU-USP, para transformar a Cidade Universitária nos próximos 100 anos — planejamento quase chinês.
Ele enfrenta um grande pecado da USP: seu isolamento da cidade (sem contar os espaços mortos e inseguros). Indiretamente, sugere novas fontes de receita para uma universidade que gasta 5 bilhões de reais por ano (95% do orçamento) apenas com salários. Lemos criaria um parque ao longo da raia olímpica, hoje fechada por muros (de concreto e de vidro), para a Marginal, e por cercas, para o resto do câmpus. “A raia é uma das maiores porções de água limpa na área central de São Paulo, e a cidade não conta com nenhum espaço público de qualidade totalmente voltado para a água”, justifica.
A área, de 2,2 quilômetros de extensão (quase a da Avenida Paulista), ganharia calçadão, prédios mais altos, com vista privilegiada para o rio, e comércio nos térreos. Um lugar aberto a mais gente. Para o Eixo Monumental, uma sucessão de rotatórias, estacionamentos a céu aberto e grandes vazios, dignos de Brasília, da Praça do Relógio à Reitoria, o arquiteto prevê prédios baixos, ciclovias e corredores de ônibus, que diminuiriam o sistema carrocêntrico da USP.
Haveria ainda um jardim de esculturas ao longo do Eixo (hoje, elas estão no meio das rotatórias, sem escala nem visibilidade). Na Avenida Professor Luciano Gualberto, que abriga as faculdades mais populosas da universidade (Poli, FFLCH, ECA, em prédios que ignoram a avenida), a proposta é desenvolver uma área de transição, com novas construções para serviços e lazer.
O projeto também pensa na integração da Cidade Universitária como um novo bairro, propondo uma nova estação de trens da CPTM ali, a ampliação da calçada da Ponte Cidade Universitária e a construção de uma ponte para pedestres e ciclistas na altura do shopping e do Parque Villa-Lobos. “A vida naquele câmpus me incomodava”, lembra o arquiteto, que desenvolveu o projeto na FAU, em 2015. Ele foi orientado pelo professor Fábio Mariz Gonçalves, “quase um pai para mim”.
Daqui a 100 anos, se o sonho de Lemos se concretizasse, seriam ocupados apenas 23% do terreno atual da Cidade Universitária. Ainda assim, já aumentaria em cinco vezes a área construída hoje.