É na temporada das fortes chuvas de verão que o estrago no entorno do Cemitério São Paulo fica mais nítido. As calçadas estreitíssimas recebem cascatas furiosas do curioso sistema de drenagem do lugar. Nas fotos ao lado, vê-se o ralo elevado que despeja a água em quem estiver passando. Pegadinha para o pedestre. O muro alto impede que se admire e se desfrute o bosque interno. Para os muito mal-intencionados que furtam esculturas e peças funerárias, o paredão protege e os esconde da vigilância dos vizinhos.
Com mais de 100 000 metros quadrados, que se espalham entre as ruas Cardeal Arcoverde, Henrique Schaumann e Luís Murat, a necrópole tem suas vias todas concretadas. Impermeabilizar a terra da garoa e de chuvas torrenciais de verão é uma obsessão da Pauliceia que favorece enchentes.
Como a privatização da gestão dos campos-santos municipais não parece que vai sair tão cedo, é hora de pensar em como melhorar uma área com tanto potencial. Quem sabe as incorporadoras que estão erguendo edifícios em Pinheiros e na Vila Madalena possam patrocinar a substituição do muro por um gradil, além de reforçar a iluminação.
Aberto em 1926, como alternativa aos já lotados cemitérios de elite da cidade, Consolação e Araçá, bem que o São Paulo poderia dar mais respiro à vizinhança, antes de chegar ao centenário.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 29 de janeiro de 2020, edição nº 2671.