Quase vinte anos depois de matar três pessoas e ferir outras quatro no cinema do MorumbiShopping, em São Paulo, o ex-estudante de medicina Mateus da Costa Meira, hoje com 44 anos e cumprindo pena na Bahia, foi submetido recentemente a um exame chamado de verificação de cessação de periculosidade, que lhe foi favorável.
Segundo o laudo, o condenado a mais de 120 anos de cadeia (depois, a sanção foi reduzida para 48 anos) “encontra-se compensado, funcional, sem qualquer alteração de comportamento que indique periculosidade”, sendo considerado apto à desinternação. A medida, no entanto, não é automática e foi vetada pela Justiça a pedido do Ministério Público.
Além de solicitar uma nova rodada de exames, os promotores juntaram na ação um parecer do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos, segundo o qual “a saída imediata de Matheus, sem um processo gradual de desligamento, que inclua saídas temporárias com devidos planejamento e acompanhamento, pode ter consequências graves para si, para sua família e para a sociedade”.
Outro ponto que pesou para a determinação da juíza Maria do Socorro Santa Rosa de Carvalho Habib, da Vara de Execuções Penais da Bahia, é que o próprio pai do condenado, Deolino Vanderlei Meira, verbaliza essa preocupação nos documentos apresentados ao Judiciário.
Os crimes e a pena
Na noite de 3 de novembro de 1999, Meira entrou com uma submetralhadora 9 milímetros em uma sala de cinema do MorumbiShopping e disparou a esmo contra a plateia que assistia ao filme Clube da Luta. Antes, acompanhou a exibição por cerca de quinze minutos.
Preso em flagrante, foi condenado em 2004 e ficou em São Paulo até 2009, quando conseguiu autorização para cumprir pena na Bahia, seu estado natal. Primeiro levado à Penitenciária Lemos Brito, em Salvador, foi transferido para o Hospital de Custódia e Tratamento (HCT), na mesma cidade, após esfaquear um colega de cela. O motivo alegado foi que o volume da TV à qual a vítima assistia estava muito alto.
Meira foi absolvido do crime de tentativa de homicídio, mas com a condição de que ficasse internado, por tempo indeterminado, em um centro psiquiátrico, onde está até hoje.
Troca de cartas com travesti
Dois anos depois dos assassinatos, Mateus da Costa Meira passou a trocar cartas com uma travesti chamada Alcione, a qual havia conhecido semanas antes do crime. Nos documentos, que se tornaram públicos na época, o condenado manipulava a amiga, pedindo-lhe dinheiro e mantimentos. Desenhava corações, bonecos e casinhas. No fim, Alcione, que suspendeu o contato com o assassino, diz ter gasto mais de 20 000 reais com os pedidos de Meira.